Depois da publicação de “Os Mares do Sul”, um dos mais recomendados romances policiais publicado pela primeira vez no longínquo ano de 1979, a Quetzal continua a louvável missão de serviço público de (re)editar os livros de Manuel Vázquez Montalbán, criador do único Pepe Carvalho: detective e gastrónomo, ex-comunista desencantado e dado a contradições, que usa livros como acendalhas mas que, ainda assim, não deixa a Literatura sem o devido elogio. Afinal, “como amaríamos se não tivéssemos aprendido nos livros como se ama?”.
Segue-se agora “Assassinato no Comité Central” (Quetzal, 2025), livro que parte de um assassinato durante uma reunião do Comité Central do Partido Comunista Espanhol, cometido quando as luzes se apagam no início da sessão. A investigação oficial é entregue ao Comissário Fonseca – “o sacana do Fonseca”, segundo Carvalho -, que ficou na má memória dos comunistas como um dos carrascos predilectos do franquismo, mas Pepe Carvalho acaba por conduzir uma investigação não oficial paralela, assumida graças a uma cumplicidade gastronómica que envolve… rins de cordeiro.

Por falar em gastronomia, esta continua bem no centro da trama, seja quando Biscuter, o assistente, confessor e cozinheiro de Pepe Carvalho, prepara um pequeno-almoço retemperador que envolve “uma linguiça divinal e uns feijões cozidos”, seja quando se fala da importância de Madrid para a herança da cultura gastronómica espanhola, “com um cozido, uma tortilha e umas tripas”.
Quanto ao caso, que envolve sindicatos, seis suspeitos espremidos num parágrafo e um revisitar de Pepe Carvalho aos seus tempos de militância, acaba por ser desvendado com um twist à boa moda do policial britânico. Está uns furinhos abaixo de “Os Mares do Sul”, o que significa que é apenas muito bom. Venham mais.
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