“Gannibal 3” (A Seita, 2024), o mangá seinen – título dado aos mangás dirigidos ao público adulto – assinado por Masaaki Ninomiya, continua em estado de graça, num misto de policial, thriller e terror que fazem desta, até ver, uma série obrigatória.
Após ter tirado as medidas a Kuge e aos seus estranhos habitantes, Daigo Agawa traçou um novo plano à escala familiar: “Se vamos continuar a viver aqui, tenho de me abstrair do que acho que sei. Tenho de descobrir o que realmente aconteceu aos Kano e perceber onde a família Goto se encaixa no meio de tudo isto!”.

O culto é agora visível, ainda que apenas para o leitor, que à boa moda dos velhos policiais sabe mais que o investigador. Enquanto vai devorando um belo entrecosto (presumivelmente) humano, o velho de ar tresloucado recorda aos mais esquecidos: “Nenhum forasteiro sobrevive muito tempo nesta aldeia”.
A pequena Mashiro está melhor de saúde, mas o casamento de Daigo continua por arames, num lugar onde o espaço para a privacidade é mínimo. Sabu, que parece estar sempre presente, dá o mote a qualquer tipo de reabilitação ou acrescento domiciliário – “Construir uma cerca é como se estivesse a dizer que não confias em nós” -, o que acentua o estado emocional de Daigo – “São todos uns chatos de merda”, diz em surdina.

As festividades aproximam-se, momento preparatório que nos apresenta ao filho do sacerdote do santuário “Kuro no Kami”, responsável pela organização do festival de oferendas deste ano – e que parece desempenhar, perante os habitantes, um papel digno de Óscar.
Um volume sumarento, onde conhecemos o gestor de um blogue de artigos sobre o oculto, partilhamos da desconfiança sobre a matriarca da família Goto – acusada de ter levado várias crianças – e percebemos que, em Kuge, sopram de feição os ventos do patriarcado. E que, a dado momento, ainda nos deixa com uma frase para reflexão: “O medo herda-se”. O volume 4 está já disponível nas livrarias.
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