A Akiara é uma editora que nos encanta, surpreendendo-nos sempre com a sua inspiração. Os seus livros suscitam a interrogação, o espanto pelas pequenas coisas. Valorizam a curiosidade, a contemplação, a natureza e despertam o gosto pelo prazer de ler e de explorar o livro como um objecto singular e precioso. Encontramos beleza nos pequenos detalhes, nas ilustrações, nos temas, nos textos e na palavra. A colecção Akipoeta, respeitadora dos princípios da eco-edição, promove uma publicação sustentável, apelando à sua consciencialização, sempre em prol da minimização do impacto ambiental dos livros.
“Plantar o Mundo” (Akiara, 2024) é um livro belíssimo, uma verdadeira homenagem à beleza, à Natureza, às árvores, esses seres “gigantes e minúsculos, esquecidos e conhecidos, robustos e delicados”, apaziguadores e inesquecíveis. Esses seres imponentes e elegantes, belos.

As árvores têm uma longa história e são um excelente exemplo de sucesso evolutivo. Existe uma diversificadíssima família, os seus nomes dizem-se em “mil línguas”, são resistentes, pois armazenam água e nutrientes para usarem nos momentos de escassez. Têm um reduzido risco de extinção, são necessárias à nossa qualidade de vida, sonham em transformarem-se em bosques, florestas e selvas, mas não só: são também boas ouvintes, vigilantes, sonhadoras, acolhedoras e vaidosas, evidenciando-se na paisagem.
“Plantar o Mundo” é mais do que uma ode às árvores, mais de que um poema. É um livro para apreciar a delicadeza das ilustrações, verdadeiras aguarelas, para saborear cada palavra e reflectir sobre as perguntas que dão mote ao poema – “As árvores… Com que são parecidas? Como são, a sério? Têm pesadelos? Nunca se rendem? Com que sonham as árvores? E o que podemos fazer para que os sonhos delas se realizem?”. Para degustar as respostas e, quiçá, ampliá-las, (re)formulando novas questões.
Um livro para dialogar com os outros. Connosco. Com as árvores. Com a Natureza. Um livro para ler e dar a ler. Para guardar. Apreciar e revisitar muitas vezes. Um livro para compreender o amor às árvores, à Natureza, às palavras e à beleza e sensibilidade das ilustrações.

Por todas estas razões deveremos saber, um pouco mais, sobre os criadores deste livro ímpar e da sua tradutora, que proporcionou a leitura em português:
Javier Sobrino (escritor) viveu a infância numa casa rodeada de prados e árvores, no vale das Bajuras, em Pimiango (Astúrias), e os seus brinquedos favoritos eram umas vacas de madeira que construía com pedaços de carvalho. A família mudou-se para a cidade, Santander. A relva transformou-se em asfalto e as árvores, em postes de iluminação. Naqueles anos, ainda havia no seu bairro hortas com pomares. E todos os anos lhe ofereciam os seus frutos. O seu primeiro destino como professor foi Piñeres, Peñarrubia, uma povoação de montanha e pasto com um bosque. Aí, com os seus alunos e alunas, começou a fazer sementeiras das árvores que nos rodeavam. Anos depois, construiu uma casa numa aldeia com um bosque de azinheiras, perto do mar, em Pechón, onde foi plantando uma árvore aqui, uma flor ali. E agora faço o mesmo com os meus filhos.
Em pequena, Concha Pasamar (ilustradora) gostava de tudo o que fosse feito de folhas: desenhar em cadernos, ler livros, brincar e sonhar entre as árvores. Depois tornou-se professora, e houve um longo tempo em que só os livros povoaram o seu mundo. Mas as suas folhas pálidas foram convocando as outras: com os seus filhos voltou, quase sem dar conta, à cor dos cadernos e ao verde dos bosques. Actualmente, nas suas aulas, rega as palavras que outros semearam enquanto em casa cultivo alguns livros ou pinto o pátio de verde e de mais cores. Gosto de plantar o mundo de seiva e papel.
Catarina Sacramento (tradutora) aprendeu a ler e escrever aos 6 anos e, desde então, não faz outra coisa. Estudou Ciências da Comunicação e entrou no jornalismo pela porta da cultura e das artes. Escreveu sobre música no jornal Blitz, sobre comida na revista Time Out Lisboa e depois mudou-se para o mundo dos livros, onde pratica caça ao erro e tiro à gralha. Gosta de palavras, do som que fazem ao sair da boca, da forma como se podem moldar com as mãos — e do incrível poder que têm para fazer rir, sentir e pensar. Adora viajar, dentro dos livros e fora deles.
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