Há livros muito divertidos, que nos contam histórias bem-humoradas e nos apresentam a pessoas inesquecíveis – tais como o agente Simões, polícia sinaleiro. As guardas – iniciais e finais – de “STOP” (Orfeu Negro, 2024) deixam antever o herói da história. As primeiras páginas obrigam o leitor a olhar à esquerda, à direita e a apreciar os vários automóveis no transito citadino. Ao fundo, quando uma avenida termina e outras começam, no cruzamento, lá está ele, o polícia-sinaleiro. Dizem que é o último exemplar, que está em extinção, que tem uma profissão rara, ainda mais rara do que “tigre-de-bengala, o rinoceronte-branco ou aquela pessoa-que-escreve-cartas-de-amor”.
Ao virar as páginas, o leitor vai conhecendo o agente Simão. No cruzamento, no seu pequeno trono pintado de branco e vermelho, ergue-se, bem visível, um homem robusto e de bigode farto. O uniforme, o capacete e as luvas brancas fazem do agente um homem muito bem-apresentado, sempre de apito nos lábios e que, nos momentos de grande confusão, usa “todos os alvéolos pulmonares”, fazendo ecoar um sonoro e agudo TRIIIIIIIIIIIIIIIII – ao mesmo tempo que gesticula mãos e braços, de modo a evitar desastres, abrandando o caos mas apenas por alguns momentos, pois não tarda de novo, a confusão.

Todos, sem excepção, adoram o agente Simões. Um dia, porém, fruto dos tempos modernos, vê-se substituído por semáforo, deixando a angústia instalar-se. O que fazer, quando algumas ideias se tornam ineficazes para apagar a melancolia dos dias? Mais tarde, o telefone toca e o agente Simões tem de abraçar um desafio que nunca imaginara. “Seis mil quinhentos e quarenta e cinco quilómetros mais tarde, Simões entrou numa sala ultrassecreta onde uma generala ultramedalhada falou ultra-apressadamente”. Será que o adorado agente Simões conseguirá solucionar a missão ultra-secreta?
O texto de Ricardo Henriques é imaginativo e cheio de humor, e as ilustrações de Pierre Pratt são simplesmente maravilhosas, vorazes e cheias de ritmo – o seu traço é único e inconfundível. O texto e as imagens entrelaçam-se, oferecendo ao leitor um livro maravilhoso sobre coragem, determinação, esperança e perseverança. Belíssimo e muito, mesmo muito, divertido.

Ricardo Henriques já fez design gráfico, ilustração, redação publicitária e escrita para imprensa. Foi editor de duas revistas e tem vários livros publicados na editora Pato Lógico, incluindo o premiado álbum “1.º Direito” (ler crítica).
Pierre Pratt nasceu no Canadá e estudou design gráfico em Montreal. Começou por ser autor de banda desenhada, dedicando-se depois à ilustração. Assina já cerca de 50 álbuns ilustrados para crianças e foi nomeado para o prestigiado Prémio Hans Christian Andersen. Vive em Portugal.
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