E eis que, do já sobrelotado universo do mangá, acaba de surgir uma boa surpresa chamada Frieren. Uma história sobre amizade, alimentada com os melhor ingredientes da literatura fantástica. “Frieren 1” (Devir, 2024), o volume de estreia, começa assim como o Senhor dos Anéis havia terminado: com o regresso a casa de Frieren e dos companheiros Herói Himmel, Guerreiro Eisen e padre Heiter, após uma – presume-se – épica batalha contra o rei demónio. Como élfica dada à quase imortalidade, a maga Frieren não parece muito afectada pela separação, dedicada agora à sua grande missão de vida: viajar pelo mundo e coleccionar magias.

Kanehito Yamada conduz-nos depois num salto temporal de cinco décadas. Heiter é, por esta altura, um velhote que continua a ser o fiel depositário do Corno do Dragão Negro – um artigo importante na batalha travada meio século antes. Neste reencontro com Frieren, Heiter pede-lhe que aceite Fern, uma órfã de guerra das Terras do Sul, como sua aprendiza. Para a convencer, entrega-lhe um livro de magia que se diz conter um feitiço da imortalidade ou da ressurreição dos mortos.

Para Fern, “Frieren é uma maga com poder para salvar muitas pessoas. Não devia gastar tempo a procurar algo que não existe”. Já Frieren, para quem o passar dos anos tem a leveza dos dias breves, aceita a missão de compreender melhor o homem e os seus sentimentos, partindo com Fern em busca do livro de memórias da grande Maga Flamme, um mito urbano da literatura que se diz conter registos de conversas com os mortos. O destino – um de muitos – é Ende, lugar onde se encontra o castelo do Rei Demónio.

Em “Frieren 2” (Devir, 2024) prosseguimos a viagem rumo ao Castelo, acompanhando também, através de um percurso tão carregado de símbolos que chega a parecer o de Santiago de Compostela, as memórias de Frieren sobre uma jornada curta que, afinal, lhe deixou marcas para a longa vida.
Paramos numa cidade protegida pela barreira defensiva da Grande Maga Flamme, somos apresentados a Aura – a Guilhotina dos Sete Sábios da Destruição – e aos seus demónios e, pelo caminho, vamos apreciando o sentido de humor de uma élfica que procura conhecer o insondável coração humano: “Os humanos exageram tanto. Qualquer coisa serve para fazer um festival”. Que o terceiro volume preserve o estado de graça dos primeiros.
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