“Os animais morrem, os pássaros não voam, as colheitas são difíceis, as flores quase não existem. O clima deixou de merecer confiança. Por vezes, os nossos dias de inverno chegam aos 33 graus. Por vezes, neva sem qualquer motivo. Já não conseguimos cultivar comida suficiente, não conseguimos fazer crescer vegetação suficiente para os animais e não conseguimos alimentar as pessoas com aquilo de que necessitam. A nossa população morria a um ritmo alarmante antes de o Restabelecimento subir ao poder, prometendo-nos que tinham uma solução. Os animais estavam tão desesperados por comida que se dispunham a comer animais envenenados. Matávamo-nos uns aos outros para tentar sobreviver. O clima, as plantas, os animais e a nossa sobrevivência humana estão inextricavelmente ligados. Os elementos naturais estão em guerra uns com os outros porque abusámos do nosso eco-sistema. Abusámos da nossa atmosfera. Abusámos dos nossos animais. Abusámos dos nossos humanos.”
É com este cruzamento entre um boletim distópico da National Geographic e uma carta de intenções de uma associação activista pelo clima que mergulhamos em “Intocável” (Secret Society, 2024), livro que dá início à saga assinada por Tahereh Mafi que, a acreditar nas melhores previsões, terá ao todo 6 volumes – em Portugal estão publicados, além deste “Intocável”, os volumes “Inquebrável” e “Inflamável”.
No universo de Shatter Me, o mundo como hoje o conhecemos é praticamente um mito urbano. Duvida-se de o planeta tenha sido verde, que no céu habitassem nuvens brancas e que o sol irradiasse uma luz mais intensa que a de um candeeiro de rua.
Num estado armado até aos dentes, Juliette foi arrastada de casa há três anos, sete depois “do início da pregação do Restabelecimento”, e encerrada numa instituição de alta segurança. “A minha vida resume-se a 4 paredes de oportunidades perdidas despejadas em moldes de betão”, partilha, terminando um período de 264 dias em que se remeteu ao silêncio. A mudança dá-se quando passa a partilhar a cela com Adam, com quem acaba por partilhar a maldição que a persegue: “Não podes tocar-me”. O seu toque é letal, podendo deixar alguém à beira da morte, razão pela qual o sistema olha para ela como uma arma, estudando a melhor forma de a usar contra os rebeldes que tentam tomar o controlo. Até que uma velha amizade surge para lhe virar a vida do avesso, dando-lhe a conhecer a fresta do mundo por onde espreita o desejo de uma rebelião.
Tahereh Mafi parece ter ido buscar inspiração a várias séries recentes – Maze Runner, Os Jogos da Fome ou Divergente –, tudo para criar uma distopia onde tanto se descobrem preocupações ambientais como uma revolta contra o sistema políco. A julgar por este primeiro livro, Shatter Me tem pernas para andar.
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