Aquilo que os Low lograram atingir ao longo de duas décadas, torna-os uma das bandas mais prolíferas, entusiasmantes e consistentes do universo indie. Desde o lançamento de “I Could Live in Hope”, disco datado de 1993, que o duo – e casal – Alan Sparhawk e Mimi Parker, naturais do Minnesota, conseguiu reunir uma base de fãs fiéis muito por culpa de uma música de contornos espartanos e minimalistas, à base de guitarra baixo e bateria (e das duas complementares vozes de Sparhawk e Parker) que estaria na fundação do movimento slowcore.
Em mais de vinte anos de existência, os Low mantiveram uma elevada fasquia qualitativa (sinceramente, não nos lembramos de um “mau” disco da banda) e souberam manter-se à tona e, desde que se juntaram ao catálogo da editora Sub Pop, por alturas da edição de “The Great Destroyer” (2005), até arriscaram uma abordagem mais pop, com elementos aqui e ali mais electrónicos.
A música para os Low é algo em permanente – mas tímida – evolução, e a exploração de outros territórios sonoros, ainda que sem grandes desvios de uma matriz inata, leva Sparhawk e Parker até discos como o mais recente “Ones and Sixes” (Sub Pop, 2015), décimo primeiro tomo da carreira desta dupla, que é mais uma centelha brilhante a juntar à sua discografia.
Gravado nos estúdios April Base, quartel-general de Justin Vemon – a.k.a. Bon Iver -, “Ones and Sixes” contou com a colaboração de Glenn Kotche, baterista dos Wilco, e a produção conjunta entre a banda e BJ Burton, assumindo-se como uma súmula dos diferentes caminhos que os Low têm percorrido, principalmente a partir de “Thinks We Lost in the Fire” – talvez o derradeiro suspiro da fase mais ensimesmada e negra do grupo.
Hoje, a banda navega entre ambientes mais “quentes”, tão caros a discos como “C´mon” e “The Invisible Way” e momentos mais interiores, soturnos, de, por exemplo, “Drums and Guns”. Este processo, pensado, tranquilo e natural, tornou possível acolher ingredientes electrónicos em composições como “Congregation” ou “Gentle, neste último caso com algumas referências a fazer lembrar momentos mais downtempo de alguns projectos associados a Trent Reznor.
Esses momentos mais misteriosos, densos, encaixam de forma perfeita com outros registos mais “baladeiros” à base de guitarras, como o desafiante “Lies”, canção que tem lugar no pódio das mais emblemáticas da carreira da banda e cujo clímax nos remete para a assertiva assunção de que a música é muitíssimo mais que uma matemática de acordes, podendo ser mesmo encarada como a mais sublime forma de catarse.
Outro dos grandes momentos de “Ones and Sixes” é “Landslide”, um tour de force de quase dez minutos que nos faz regressar a faixas como a maravilhosa “Lullaby”, do já referido disco de estreia dos Low, ou “Stay”, pérola que nasceu aquando da saída de “Long Division” (1995), e que se pauta por vibrantes camadas de uma negritude apaixonante, alimentada pelas vozes complementares de Alan Sparhawk e Mimi Parker, dissonantes mas complementares, únicas e deliciosas.
Ao longo das 12 partes de “Ones and Sixes” são perceptíveis laivos de novas explorações musicais, como o uso mais recorrente à distorção, o que dá ao universo do disco um carácter mais “cru” e que contrasta com outras formas mais intocáveis, puras. Essa experimentação instrumental eleva ao estado de cristalina sonoridade algumas adições vocais e melodias muito bem construídas, que vão fazer as delícias dos ouvintes mais exigentes, que não ficarão indiferentes a composições como a viciante “No Comprende”, a curtinha “No End”, a mais gingona “Kid in the corner” ou a descaradamente etérea “DJ”.
Esta maior diversidade e exploração de sons transformam “Ones and Sixes” numa espécie do melhor de “dois mundos”, uma mais-valia que segue várias direcções. Se, por um lado, mantém a exigência sonora que os velhos fãs esperam, por outro abre novos horizontes para os recentes ouvidos que chegam ao paraíso musical dos Low.
Sem Comentários