Em Portugal, em anos passados, ouviam-se contar histórias sobre os homens do fraque que, vestidos a rigor, eram pagos para ir atrás de quem devia dinheiro – em muitos casos a vergonha levava ao pagamento, noutros poderia acabar tudoao estalo. No Japão leva-se – ou levava-se – a coisa mais ao extremo, recorrendo-se aos kubidai hikiukenin, que é o mesmo que dizer cobradores de dívidas de honra – espécie de homens de fraque de katana na mão. Para atestarem a seriedade do negócio, digamos que o manual de procedimentos vai mais ou menos assim: “A promessa firmada com uma nota de dívida, implica colocar a vida em jogo, e talvez ter de pagar com ela… Quem não cumpre a promessa, comete um acto sem perdão”.
“O Preço da Desonra” (A Seita, 2023), escrito e desenhado por Hiroshi Hirata – e publicado originalmente em 1999 -, leva-nos até ao Japão e ao período Edo, onde os clãs e os seus líderes se entretêm em lutas de poder. No calor da batalha, quando pressentiam que a morte estava a meros centímetros, muitos samurais evitavam ir desta para melhor pagando pequenos euromilhões ao presumível assassino, assinando notas provisórias que seriam cobradas mais tarde em caso de miraculosa sobrevivência.
Nas sete histórias que compõem este livro, seguimos os passos de Hanshiro, um implacável cobrador de dívidas que conhece o manual de trás para a frente, incluindo esta alínea: “está instituído que um clã assumirá a despesa caso o próprio não salde a dívida”.
Hiroshi Hirata desenha com mestria este mangá de samurais, num mundo onde atrás dos valores e do sentido de honra se escondem a corrupção e a hipocrisia. O formato escolhido pela editora A Seita é perfeito, bem como o papel onde os desenhos são servidos, resultando num caderno de esboços preenchido com desenhos perfeitos. Um mergulho na história do Japão com direito a diploma olímpico.
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