Começou com o sabor da distopia, misturando o olhar de Orwell, a classificação genética de Huxley e a invenção de K. Dick. Por esta altura, Lazarus está mais perto de uma mega-produção hollywoodesca no domínio do thriller, com muito sangue, lutas e jogadas familiares ao nível de um Succession aos quadradinhos.
Com argumento de Greg Rucka, arte de Michael Lark e cores de Santi Arcas, Lazarus transporta-nos para um mundo redefinido, onde as fronteiras deixaram de ser geográficas ou políticas para se transformarem em invisíveis mas marcantes linhas financeiras, onde a riqueza é o poder máximo que se pode almejar. Nesta sociedade, e abaixo daqueles que vão permanecendo na sombra como Big Brothers, a mais sortuda das ralés pertence a uma das Famílias que mandam no mundo, que vão gerindo o seu território como se de um pequeno e ditatorial país de tratasse. Os que fornecem serviços às Famílias são bem tratados, tudo o resto é distribuído entre Servos e Desperdício.
“Abate” (Devir, 2023), o quinto volume da série, mostra-nos uma família a caminhar na corda bamba – os Carlyle -, isto porque Forever, a sua Lazarus, está fora de combate, recuperando dos gravíssimos ferimentos sofridos durante a Batalha de Duluth e recebendo, como já vai sendo hábito, transfusões diárias e comprimidos que lhe toldam a vontade própria. Agora que sabe ser o resultado de uma experência genética com muita tecnologia de combate pelo meio, Forever começa a perder a confiança na Família a que pertence, o que deixa Johanna Carlyle, chefe interina e sua irmã, no limbo de uma decisão que poderá mudar o destino: continuar a bombardear Forever com químicos e mentiras, indo ao encontro da vontade do pai, ou contar-lhe toda a verdade – como o facto de ser a sétima Lazarus e de a oitava já estar a ser treinada para a suceder? Resumindo, o que passa pela cabeça de Johanna – Jo para os amigos – por esta altura é mais ou menos isto: se metade da verdade dói, o que será depois da outra metade?
Quem parece estar em grande forma é Sonja Bittner, filha mais nova e Lazarus da família Bittner, que em Davos se envolve num combate com o capitão e Lazarus Mueller. Mas o destaque maior deste quinto volume vai para a família Vassalovka e o seu Lazarus, Zmey, o Dragão, empregue “num papel muito específico e limitado, não tanto para multiplicar as suas forças, mas para minar a moral inimiga. Construíram para si próprios um monstro. Mais do que usá-lo no terreno, tiram-lhe a trela, deixam-no à solta em determinados teatros de operações para fazer o máximo de carnificina, e depois prosseguem com uma acção militar mais convencional”.
Os desenhos de Michael Lark continuam fiéis na sua tentativa de retratar o fim do mundo com um toque de policial noir, sempre com o protagonismo entregue a personagens femininas. O sexto volume está também disponível nas livrarias – falaremos dele muito em breve.
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