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Dom Casmurro, Machado de Assis, Deus Me Livro, Crítica, Penguin Clássicos
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“Dom Casmurro” | Machado de Assis

Por Ana Ilhéu · Em 09/07/2024

Escrito por Machado de Assis (1839-1908) e publicado pela primeira vez em 1899, “Dom Casmurro” (Penguin Clássicos, 2024) é um romance intemporal. A sua (re)leitura em pleno século XXI continua a suscitar múltiplas interpretações, reagendando o debate em torno de temáticas como o amor e o ciúme, a lucidez e a efabulação na intimidade, a amizade e a manipulação e/ou a religião e o sacerdócio. Ao cunho subjectivo destes temas, alia-se a ironia de o autor discorrer sobre a então guerra da Crimeia e a disputa dos territórios pelos russos, como se a máquina do tempo tivesse avariado, obrigando-nos a revisitar etapas anteriores da história da humanidade.

Os 148 capítulos que organizam a narrativa, distribuídos pelas 311 páginas de uma aprazível edição de bolso da Penguin Clássicos, contribuem para uma leitura especialmente prazerosa, orientada pela inteligência e pela graça do autor em expor pensamentos e emoções do protagonista, Bento Santiago ou Bentinho, Dom Casmurro assim se apresentando logo no início.

Bento crescera e envelhecera, transformando-se num narrador sobrevivente da sua própria história, sozinho, depois de ter perdido todos os outros que fizeram parte da sua vida e do seu drama. “Ao invés de uma história em que o protagonista morre no fim, Machado de Assis oferece-nos uma história em que todos lhe morrem”, explica-nos Amândio Reis na Introdução que, nesta edição, precede o texto principal. Ume edição significativamente enriquecida pelo texto deste estudioso da obra de Machado de Assis, que presenteia o leitor, novato ou já conhecedor de Dom Casmurro, com uma síntese do enredo e a orientação para uma leitura critica, centrada na figura do escritor protagonista.

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O relato de Dom Casmurro não segue uma métrica cronológica, concentrando-se maioritariamente no relato da sua adolescência e do namoro com a vizinha e amiga de infância Capitolina ou Capitu, como amorosamente lhe chamava, seguindo-se a passagem pelo seminário, também ela explanada em vários capítulos. É neste introito que encontramos uma das mais bem conseguidas conjugações de delicadeza, subtileza e intensidade quando, no capítulo XXXIII, Bentinho sente pela primeira vez o prazer do toque em Capitu, descrevendo o deleite do pentear o seu cabelo – um verdadeiro embalo para os sentidos do leitor. Por fim, a viagem pela vida adulta e em especial a matrimonial com Capitu, desfeita por obra e graça do ciúme, é feita de forma abreviada, incisiva e centrada nos comportamentos que Dom Casmurro narrador relata de Bentinho, o narrado, num registo quase impessoal.

Com efeito, Machado de Assis é por muitos apontado como responsável pelo surgimento no Brasil da prosa realista, em 1881, com a publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e, em 1891, “Quincas Borba”, escritos em folhetins. Quando surgiu, “Dom Casmurro” foi por muitos considerado como o terceiro romance da “trilogia realista” do autor, embora o próprio não o tenha formulado nesta categoria.

Como um dos nomes mais importantes da literatura brasileira do século XIX, Machado de Assis destacou-se principalmente no romance e no conto, embora tenha escrito crónicas, poesias, crítica literária e peças de teatro. Os primeiros romances que escreveu apresentam traços românticos na caracterização dos personagens, passando depois para uma fase claramente realista, de retrato moral da época e do caráter das personagens, expondo a vaidade, o egoísmo e a hipocrisia por trás da beleza dos contextos da época.

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Ana Ilhéu

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