Para Luís Louro e Tozé Simões o ano de 2015 seria sempre especial. Não só porque juntos vão somar um século de vida mas, também, porque o filho Jim del Monaco celebra 30 anos de existência.
Na década de 80 parece ter emergido no mundo um certo saudosismo pelo género de aventuras, tão popular nos anos 50. Se na América tínhamos o ressuscitar do género a partir do arqueólogo Indiana Jones, em Portugal nascia o improvável herói Jim del Monaco, um pastiche de “Jungle Jim”, cujas aventuras decorriam numa África surrealista sob o manto do colonialismo.
Por norma, quando uma publicação comemora uma efeméride desta magnitude, o que manda a tradição é que se volte a publicar uma qualquer história com direito a edição de luxo. Luís Louro e Tozé Simões foram, porém, mais longe nesta celebração e, ao invés de reciclar aventuras, trouxeram-nos quatro novas. A grande questão que se colocava era se, passados 30 anos, faria sentido ressuscitar este herói nacional.
É notório que, apesar do contexto se manter, os autores escreveram estas aventuras tendo em conta a actualidade em que vivemos, polvilhando-as com referências modernas. No entanto, não conseguiram esconder que esta é hoje uma personagem datada, que não gozará das mesmas glórias que alcançou no passado. Quando surgiu em 1985, através do suplemento “Tablóide” do Diário Popular, Jim del Monaco conseguiu agitar as águas da BD nacional, mostrando-se como um herói distinto em relação aos restantes produtos publicados. Por essa conquista, o trabalho de Louro e Simões terá sempre um lugar na História da BD portuguesa. Contudo, esta nova edição irá apelar apenas ao coração dos fãs, pois dificilmente conquistará novos leitores.
Se uma celebração de Jim del Monaco seria algo expectável, o regresso dos seus autores à BD já não. Simões nunca mais voltou a escrever nos últimos 26 anos estando profissionalmente ligado às áreas da Banca e da Gestão de Empresas, enquanto Louro já havia expresso publicamente o seu desejo de se afastar dos desenhos. É caso para dizer uma vez autor, sempre autor, pois o regresso a estas lides parece ter corrido de forma suave.
Louro volta a recuperar o traço característico destas personagens, com a grande diferença de as colorir, pela primeira vez, de forma digital. Quanto a Simões continua fiel ao espírito original, abusando de piadas indecentes e reviravoltas improváveis. Em adição às quatro histórias originais, “O Cemitério dos Elefantes” (Asa, 2015) contém uma sessão fotográfica, esboços, uma cronologia, curiosidades e uma entrevista aos autores conduzida por Carlos Pessoa, onde descobrimos o quão perto esta celebração esteve de não acontecer.
Chegados aqui é muito interessante constatar como esta série marcou uma fatia dos leitores portugueses na década de 80, leitores esses que se mantêm ainda hoje fãs fiéis, como bem o provaram as filas para os autógrafos no festival Amadora BD, onde o livro foi uma das novidades em destaque. Porém, “Jim Del Monaco” é realmente um produto do passado, uma história que hoje dificilmente encontrará o seu lugar no mundo. Os tempos mudaram, o sentido de humor também. Jim e a sua pandilha não.
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