Já falta pouco para o regresso do melhor cinema independente contemporâneo. A 21ª edição do IndieLisboa acontece de 23 de Maio a 2 de Junho, nas salas do costume, prometendo um olhar atento e urgente sobre o mundo.
A Competição Nacional, secção central do festival, regressa com 8 longas metragens e 18 curtas metragens, num equilíbrio entre cineastas que regressam ao festival e estreantes. Nesta edição, tendo em conta a celebração de Abril e dos seus 50 anos da Revolução, a Competição Nacional celebra um número recorde de títulos a concurso.
Há 3 estreias mundiais entre as longas metragens e 11 estreias mundiais entre as curtas metragens. “Banzo“, de Margarida Cardoso, acompanha um médico de uma plantação numa ilha tropical africana que, em 1907, terá de curar um grupo de serviçais “infectados” pelo Banzo, a nostalgia dos escravos. Morrem às dezenas, de fraqueza ou suicidando-se.
Também em estreia mundial, “O Ouro e o Mundo“, de Ico Costa, foca-se num jovem casal de uma pequena cidade de Moçambique. Para escapar à precariedade, Domingos embarca então numa viagem por Moçambique, com destino às minas de ouro no norte do país. A terceira estreia mundial é “O Melhor dos Mundos“, de Rita Nunes, um drama passado em 2027 sobre um casal de cientistas frequentemente em pólos opostos. Este conflito será posto à prova numa noite decisiva em que dados analisados por Marta apontam para uma probabilidade muito alta de um enorme sismo poder atingir Lisboa. Os cientistas ficam indecisos sobre alertar a população para a possível tragédia iminente.
O novo filme de Diogo Costa Amarante chama-se “Estamos no Ar” e a sua protagonista, Fátima, diz que não sente nada, mas sonha com o polícia que se mudou recentemente para o apartamento ao lado. Vítor, o filho, usa secretamente a farda do vizinho na expectativa de que o rapaz que conheceu online sinta alguma coisa por ele. Júlia, a avó, quer fugir do lar, mas sente-se cansada de andar às voltas para não ir a lado nenhum. Tudo o que estas pessoas desejam parece dissolver-se no ar.
Basil da Cunha regressa à Reboleira em “Manga d’Terra” para contar a história de Rosa, jovem cabo-verdiana que trabalha num bar para enviar dinheiro para os filhos. Presa entre o assédio dos mafiosos e a violência policial quotidiana, Rosa tenta encontrar consolo no seio das mulheres da comunidade, mas o seu verdadeiro escape é a música.
“Mãos no Fogo“, de Margarida Gil, estreado no Festival de Berlim, explora as características imateriais do cinema através de Maria do Mar, jovem estudante de cinema, e uma tese sobre o Real no Cinema. Mar tem uma confiança ilimitada no “visível” e a sua candura, a par da sua ingenuidade, também a inclinam para ver o lado bom das coisas e o que há de genuíno nas pessoas e seus costumes.
Jorge Jácome volta ao IndieLisboa com a sua aventura poética “Shrooms” e os seus cogumelos mágicos. Em “Greice“, de Leonardo Mouramateus, uma jovem estudante brasileira de 22 anos envolve-se com o misterioso Afonso. O casal é responsabilizado por um estranho acidente que ocorre numa festa e precipita o regresso de Greice a Fortaleza.
“Contos do Esquecimento” questiona o papel de Portugal no tráfico transatlântico de africanos escravizados a partir de achados arqueológicos recentes em Lagos, no sul de Portugal. O filme de Dulce Fernandes invoca a distância entre o que queremos esquecer e a urgência da memória. Em estreia nacional está o aclamado filme de Catarina Vasconcelos, Nocturno para uma Floresta, que fala sobre um muro erguido no sec. XV por monges no Buçaco, impedindo a entrada de mulheres. Mas os muros impelem para a reviravolta do universo. Todas as longas da Competição Nacional têm legendas descritivas.
Este ano o festival estreia uma nova secção, a Rizoma, que apresenta um conjunto de filmes que pretende trabalhar questões relevantes da actualidade, cineastas de renome, e ante-estreias. Um programa que pretende oferecer uma perspectiva crítica sobre o presente em torno do cinema como reflexão e debate, um lugar do encontro e da celebração dos filmes em conjunto com o grande público do festival.
Impossível não mencionar “All of us Strangers“, o novo filme de Andrew Haigh, em exibição única em Portugal. Este romance queer teve seis nomeações para os BAFTA e unanimidade total em relação às prestações de Andrew Scott e Paul Mescal, dois actores em estado de graça.
“No Other Land“, um dos maiores destaques na última edição do Festival de Berlim, é um filme de um colectivo palestiniano sobre a destruição que Israel consegue causar na sua tentativa de ir ocupando maiores faixas de terreno. Mas é também sobre a ligação que se estabelece entre um jornalista israelita e um activista palestiniano que vão criar uma aliança singular.
Em “A Besta“, de Bertrand Bonello, o romance e a distopia andam frequentemente de mãos dadas. Léa Seydoux é Gabrielle, uma mulher que vive numa sociedade futurista que abomina emoções que exaltem os seres humanos. Para o efeito, um processo de purificação do ADN leva o indivíduo a viajar por todas as suas vidas anteriores, separando-se de todas as coisas que a afectaram. Nessas viagens, surge Louis, num encontro que põe em causa todo o processo.
Concentrado no primeiro fim de semana do festival, Novíssimos é uma secção competitiva para jovens cineastas, não só em idade mas em vontade de experimentar o cinema. Não é tanto uma competição para filmes de escola, embora haja lugar para muitos deles, tanto do ensino secundário como do superior, mas sim para cineastas emergentes, mesmo quando a escola de cinema não está no seu caminho. Há espaço para diversidade temática e formal, numa selecção que cobre várias expressões artísticas, desde registos documentais como “Conseguimos Fazer um Filme“, de Tota Alves, até narrativas mais clássicas, como o filme de Mário Veloso, o coming of age “Chuvas de Verão“; o cinema experimental de “Anima” (Joana Patrão), a animação feminista de Maria João Lourenço, “Clotilde“, e até o videoclip “Sunflowers – A Strange Feeling of Existential Angst“, realizado por Carolina Bonzinho e Leander Meresaar. Cinema para todos os gostos e formatos, com a promessa de descoberta do futuro do cinema português.
Destaque ainda para as sessões que marcam o arranque e o final do festival – a abrir, “I’m not everything I want to be“, filme sobre Libuše Jarcovjáková, a “Nan Goldin da Checoslováquia”, e o ambiente sufocante vivido depois da Primavera de Praga de 1968. Há poucos locais onde se pode expressar livremente ou explorar a sua sexualidade. A câmara como companheira constante — e a origem do material do filme, composto pelas suas inúmeras fotografias e excertos dos seus diários — captura a ida dela para Berlim Ocidental, escapar para Tóquio, e o regresso à Europa.
No encerramento, “Dream Scenario“, de Kristoffer Borgli, que o ano passado esteve na secção Boca do Inferno com o seu Sick of Myself, regressa agora com nova comédia negra, desta feita fazendo–se acompanhar de Nicholas Cage, sempre pronto para papeis desafiantes, e da produtora americana A24. Dream Scenario vê o personagem de Cage, um professor de biologia perfeitamente banal, a surgir nos sonhos de muitas outras pessoas. Ao ponto de se tornar famoso e, depois, ao ponto de se tornar infame. Pode consultar a lista completa de filmes aqui.
O IndieLisboa terá lugar entre o Cinema São Jorge, a Culturgest, a Cinemateca Portuguesa, o Cinema Ideal, o Cinema Fernando Lopes e a piscina da Penha de França entre os dias 23 de Maio e 2 de Junho.
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