O aviso surge logo na primeira página, para não enganar quem seja pouco dado a livros mais desviantes: “Este livro é sobre pessoas mazinhas”. Pessoas que podem, imagine-se, ser de tamanhos vários ou alternar entre o sorriso e a carranca, mostrando que a maldade pode vir tanto de gritos como de um incómodo silêncio.
Com texto de Toni Morrison e Slade Morrison, “O Livro das Pessoas Mazinhas” (Nuvem de Letras, 2023) mostra-nos um pequeno narrador a tentar lidar com o desconforto do mundo, enfrentando os adultos que, algures pelo caminho, perderam a curiosidade ou uma recorfontante inocência. E, nesse jogo, descobrindo também o pensamento autónomo. Como quando, confrontado pela babysitter às primeiras horas do dia com o seu sono prolongado, dá por si a elogiar o terreno do sonho e da imaginação: “Mas como é que eu perco tempo se estou a usá-lo?”. O pequeno coelho vai elaborando uma lista das pessoas más que conhece, tentando fazer frente à pequenez do mundo e manter viva a porção de sonho que deveria sempre alimentar a existência.
As páginas de grande formato, onde o branco ganha bastante terreno, permite que as cores e as personagens se destaquem, sempre com muita expressividade e reflectindo o humor e a ironia que a dupla Morrison incute a esta fábula optimista.
Uma história muito bem conseguida sobre a dualidade entre o bem e o mal, e que elege a bondade e a empatia como os sentimentos maiores de que dispomos. Dos vários mantras que encontramos, talvez elejamos este para azulejo de parede: “As pessoas grandes tornam-se pequenas quando são mazinhas. Mas as pessoas pequenas não se tornam grandes quando são mazinhas”. “Essa é que é essa!”. Palavra de narrador.
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