No final de 2022, os leitores de mangá e amantes da boa pirataria tiveram a melhor das notícias. A publicação, em modo 3×1 (três volumes por cada livro, numa edição da Devir), de One Piece, o épico de Eiichiro Oda que partiu de uma das suas paixões mais antigas: a pirataria. O resultado foi uma homenagem onde a originalidade, o humor e a capacidade de contar histórias de fundem de forma fascinante, aliando a tudo isto o imaginário japonês dos mitos e das lendas e um protagonista improvável: Luffy, alguém que quer ser pirata a todo o custo, mesmo que não saiba nadar ou entenda pouco – neste caso, nada – sobre navegação. “OK, Let`s Stand Up!” (Devir, 2023), o nº 4 da edição portuguesa, reúne os volumes 10, 11 e 12 da série original, e mantém a qualidade e o espírito de invenção nos píncaros.
Os Homens-Peixe são, apesar das espinhas, duros de roer, com gente tão ruim como o Haché das Seis Espadas (o nº 1 excepto um outro) ou Momu, a vaca chorosa, sempre algo imprevisível nos seus estados de espírito. O combate contra o temido Arlong prossegue em “OK, Let`s Stand Up”, mas por esta altura Arlong não se compromete, deixando ao cuidado da sua tropa a tarefa de acabar com Luffy e companhia.
Quando Luffy cai à água, com os pés enterrados em algo parecido a um bloco de cimento, tudo parece perdido, uma vez que mergulhar para salvar o capitão do Going Merry significaria entrar no território de eleição dos Homens-Peixe. Ainda assim, o medroso Usopp consegue descobrir coragem para deixar de se fingir de morto – estado para o qual, fazendo uso de muito ketchup, tem um talento nato – e agir como um verdadeiro pirata, e Nami chega-se à frente, na altura devida, para uma tentativa de mano a mano com Arlong, o tipo que a escravizou durante anos a fio, oferecendo-lhe uma cenoura que afinal não passava de um brinquedo de plástico.
Num volume onde “partir pedra” é encarado em sentido literal, “o mano cozinheiro é a chave para a vitória”, e nunca como dantes uma boa dentição foi tão valiosa. O Cantinho das Perguntas continua ao rubro, e há também a partilha de vários esboços, alguns deles em estado muito primário. O grande destaque vai, porém, para o inventário de falhas de Luffy ao estilo de uma estranha introspecção motivacional: “Não sei nada de esgrima, seu parvalhão!!! Não conheço técnicas de navegação!! Não sei cozinhar!! E também não sei mentir. Estou conscinente de que não poderei viver sem ajuda!!”. Ainda assim, encara Arlong de frente: “Consigo vencer-te”.
“O Mais Malvado do East Blue” levanta, logo a abrir, uma questão decisiva: como ganhar um combate que parece perdido, contra um tipo cujos dentes vão crescendoo sempre que são partidos? O plano de Luffy é claro e aponta a outra geografia corporal: “Vou apanhá-lo e partir-lhe o nariz!!!”.
Na hora de fazer as contas e os acrescentos à tripulação, um médico não parece ser má ideia, mas parece que a prioridade de alguns vai para a contratação de um músico. Enquanto se perdem em discussões laborais, Luffy e amigos são considerados inimigos do Governo, passando a figurar em cartazes de recompensa com valores que ultrapassam os dos mais temidos malfeitores.
Depois de arrumado o assunto Arlong é tempo de levantar âncora e visitar Loguetown, a cidade do começo e do fim, onde o rei dos piratas, G. Roger, nasceu e… foi executado. Uma cidade governada por Smoker, o Caçador Branco, e por onde desfila a bela Lady Aluda, como Luffy conhecedora das frutas do diabo – e na qual uma tentativa de burla dá lugar a uma dádiva, entregue com emoção e nostalgia a Roronoa Zoro: “Qual é o mal de um homem entregar o seu sonho a outro homem?”.
Neste volume, o correio dos leitores é suspendido para proporcionar uma viagem guiada ao exterior e interior do Going Merry, o barco de Luffy que parece ter tomado uma resolução para a vida a partir daqui: “Por isso, daqui em diante, quero rir como um louco!!!”.
Este quarto volume encerra com “O Começo da Lenda”, onde conhecermos as diferentes motivações de cada um para entrar na Grand Line. Um momento de viragem na série, que após 100 capítulos sob o arco East Blue inicia um novo intitulado “Alabasta”.
Segundo a lenda – e as cartas náuticas de Lani -, a porta de entrada na Grand Line será a Reverse Mountain, mas quando falamos de geografia todas as bússolas parecem estar avariadas. Nami explica-nos tudo sobre esta área que faz do Triângulo das Bermudas um fenómeno para meninos: “A Grand Line está entre dois mares!! Chama-se Calm Belt, e são áreas sem vento!!! Se todas as quatro grande correntes se dirigem para aquela montanha sobem até ao canal, chocam entre si no topo da montanha e fluem para a Grand Line!! Como já estamos nessa corrente agora só temos de direccionar o barco. Como a Reverse Mountain é uma ilha de inverno, as correntes que chocam contra ela dirigem-se para o fundo do mar. Se falharmos a entrada no canal o barco ficará destruído e ficaremos a fazer parte do mar”. Por falar em bússolas, parece que a única que funciona da pelo nome de Log Pose, uma bússola especial que consegue registar os campos magnéticos – ou, nas palavras de Luffy, “uma bússola esquisita”.
Há tempo para falar da Laugh Tale, a ilha lenda onde supostamente terminará a Grand Line, e para embarcar numa missão altruísta para dar a mão a Mr. 9 e a Miss Wednesday, caçadores de baleias e praticantes de outras malfeitorias. O destino é Whisky Peak, uma cidade de música e bebida que não é o que parece – e onde todos se divertem menos o prevenido e desconfiado Roronoa Zoro. Um volume cinco estrelas de uma série imperdível.
“Está Tudo Bem!!!”, o volume 5 que reúne os volumes 13, 14 e 15 da história original, chega às livrarias a 14 de Março.
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