É qualquer coisa como um épico bíblico em versão sanguinária, da autoria da dupla Jason Aaron (texto), r.m. Guéra (desenhos). Depois de, no primeiro volume, terem inventado a história do homem antes do seu primeiro Apocalipse diluviano, com desenhos entre a alucinação e a poeira de Mad Max e a chacina sem perdão de Conan o Bárbaro, Aaron e Guéra regressam com “As Noivas Virgens” (G. Floy, 2023), que nos leva a conhecer um mundo secreto escondido numa montanha.
Nesse mundo privado de homens, há um novo Éden que tem como centro um convento oculto, onde um rebanho de meninas órfãs é criado com vista a, quando se tornarem mulheres, se tornarem nas noivas abençoadas de uma seita conhecida como os Filhos de Deus. Além disso, quase toda a fruta que apanham vai para o topo da montanha, enquanto vão vivendo mal e limitadas às sobras do que resta depois de cada pilhagem consentida.
“Ela subiu à montanha para se casar com alguém que nunca tinha visto, uma criatura chamada ‘filho de deus’, que nenhuma de nós viu. Com uma tromba grande e desengonçada entre as pernas, que devemos adorar como se fosse maná vindo dos céus. Que mal há nisso?“. As palavras são de Jael, tentando explicar a Shari o o grito que ouviu na noite anterior. Jael que, lá no fundo, é claramente ateia, respondendo desta forma à ideia de um Deus do Céu: “Não. Que se foda esse gajo“.
Quando Shari e Jael, besties que estão quase a ter o período, descobrem o que significa tornarem-se noivas, decidem dar de fuga, mesmo que as hipóteses de escapar sejam mínimas. Afinal, como alguém diz a dado momento, “o Senhor está sempre de olho em vocês!“.
Um livro onde se escondem bebés disformes, canibais e cobras falantes, com uma veia ateísta, feminista e anti-patriarcado, e que deixa a porta mais do que escancarada para um terceiro volume. Ámen.
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