“O sinistro poder que nasce das emoções negativas dos seres humanos pode conduzir à morte”. Esta frase poderia servir de apresentação a Jujutsu Kaisen, uma maradíssima série mangá com a assinatura de Gege Akutami.
O protagonista dá pelo nome de Yuji Itadori que, antes de ver a sua vida ser virada do avesso, era um adolescente aparentemente comum, com uma força um pouco acima da média que fazia com que todos os clubes desportivos da escola tentassem recrutá-lo para a sua causa. Ainda assim, Itadori preferia o sobrenatural ao atletismo, fazendo do conselho moribundo do avô um mantra para a vida: “Ajuda quem puderes salvar. Pode ser quem está à tua volta, mesmo que estejas indeciso ou não te agradeçam, ajuda-as!”.
Contactado por Fushiguro, um tipo pertencente à Escola de Jujutsu – no departamento da Feitiçaria -, Itadori recebe a missão de recuperar e devolver um objecto que tem o poder de atrair maldições e as fortalecer. Após comer um dedo amaldiçoado, um ser maligno passa a viver dentro do seu corpo, tendo Itadori a estranha e improvável capacidade de controlá-lo. Algo que faz com que a sua execução vá ficando em suspenso, passando a dedicar-se de corpo, alma e estômago a uma missão culinária: encontrar os restantes 19 dedos de Sukuna, um demónio que possui quatro braços e duas caras e que, na realidade, é um humano que existiu há mais de mil anos – resumidamente, é ele Sukuna, o Rei das Maldições.
É este o resumo da matéria dada no arranque da série, que com este “Evento Social da Escola-Irmã de Quioto” (Devir, 2023) chega já ao volume 5. Num evento que tinha tudo para ser social, servindo de intercâmbio escolar, a escola de Quioto esconde uma missão na agenda: assassinar Itadori. Afinal, o hospedeiro de Sukuna continua a ser uma fonte de terror.
Por falar em Itadori, este vê-se confrontado pelas estranhas perguntas de Todo sobre o que prefere nas mulheres. Ao contrário de muitos dos seus pares, Itadori não hesita: “Miúdas altas com um grande rabo, acho…?”. Todo que vai agindo como um personal trainer de Itadori, ensinando-lhe como aliar a força descomunal à energia maléfica. A lição a tirar é esta: “Viemos a este mundo inteiros, de corpo e alma”.
Num evento social onde os cocktails e os aperitivos se vêem substituídos por trocas de piropos, mimos verbais e tentativas de assassinato, Gege Akutami dá-nos a conhecer mais sobre a história do Panda, um cadáver amaldiçoado dotado de sensações e emoções que esconde três núcleos como coração – o que lhe vai dar um jeito tremendo no combate com Ultimate Mekaman, onde ainda tem tempo para dar numa de Osho: “Ter tido uma vida dura não nos enche de razão”.
Mostra-nos, também, como até no mundo da feitiçaria o patriarcado impera; atira-nos com um paleio técnico sobre as muitas técnicas de cada feiticeiro, que poderiam bem servir para desenhar um dicionário ilustrado de técnicas; ou revela-nos-nos a história de Maki, que decidiu recusar o destino de ser criada para partir e, um dia, regressar para se tornar na matriarca do clã Zenin.
Para além da surpresa de uma página desenhada por Horikohi, o autor de My Hero Academia, Gege Akutami vai tratando de nos presentear com fichas de personagem que, por esta altura, mais parecem prendas de Natal. Sobre Todo Aoi, por exemplo, escreve-se que “é muito mais vaidoso do que parece, depila-se e usa sempre perfume. No volume dois, fez questão de tomar um duche antes do evento de aperto de mãos”. Jujustu Kaisen: primeiro estranha-se, depois entranha-se.
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