Foi, em tempos em que Praia rimava com thrillers e policiais, um bom candidato a arranjar lugar entre o protector solar, a garrafa de água e as sandes mistas. Romance de estreia assinado por Virginia Feito, “Mrs. March” (Alfaguara, 2023) é como um cruzamento entre um romance de época e um conto estendido de Edgar Alan Poe, que arranca a partir do momento em que a sua protagonista se vê atirada ao tapete.
Mrs. March é uma daquelas esposas que os manuais do patriarcado se habituaram a considerar perfeitas, movendo-se entre o recato, a previdência e uma rotina que lhe serve de conforto. Numa ida rotineira à sua confeitaria preferida, uma empregada lança a suposição de que a protagonista do novo livro de George Marsh, marido desta fiel cliente, terá sido inspirada na própria Mrs. March.
O problema é que, ao contrário de Helena de Troia, Jane Eyre ou Hermione Granger, esta heroína parece ser “uma prostituta gorda e patética”, ainda por cima recebida com mais escárnio do que desejo sexual.
A partir deste momento, e depois de uma passagem de olhos pelo livro do marido, Mrs. March tornar-se-á uma detective amadora, juntando à investigação da protagonista literária uma outra, que passa pela suspeita de que o marido poderá estar implicado no homicídio de uma jovem. Amigos imaginários, crises conjugais ou o triunfo das aparências, num thriller onde a mania da perseguição dá cartas.
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