Um dos regressos mais aclamados para o segundo semestre de 2015 prendia-se com o soar dos novos acordes de mais um registo dos Deerhunter. Com um rico património face à qualidade dos lançamentos anteriores, “Fading Frontier” (4AD, 2015) seria obrigado a possuir uma qualidade assinalável para não se assemelhar a uma desilusão sem sabor.
Apesar de provavelmente não existirem canções dos Deerhunter que pudessem servir como toques polifónicos de telemóveis modernos, se este disco fosse o pano de fundo sonoro numa festa social dificilmente alguém iria sugerir a sua substituição, isto porque “Fading Frontier” pode ser considerado o exemplar mais pop de toda a obra do conjunto de Atlanta.
Aliás, fazendo uma retrospectiva discográfica sobre a banda de Bradford Cox, “Fading Frontier” pode ser considerado, finalmente, o seu disco mais consistente. Todas as canções têm uma acústica bastante harmoniosa e raramente somos confrontados com acordes desagradáveis, havendo uma renúncia à linha mais abstracta à qual Cox submeteu a banda noutros tempos. A isto há que somar a voz doce e melancólica do vocalista, que assenta maravilhosamente bem em cada faixa que escutamos.
Elaborado e concluído num período de convalescença de Cox, ser a quem Deus atribuiu uma saúde permanentemente débil, “Fading Frontier” tem também os seus apontamentos mais intimistas, como são exemplo “Snakeskin”, “Take Care” ou ainda “Disjuntor”, uma faixa sobre o acidente de viação que Cox sofreu em Dezembro último. Daí este não ser um disco sobre a celebração de estar vivo, antes uma reflexão sobre a perpetuação do hábito de existir e a resignação a que isso obriga.
Apesar de não possuir um hit poderoso como “Desire Lines” (parte de “Halycon Digest”, de 2010), este é um registo maduro e hialino de uma banda que segue as matrizes tradicionais do indie rock norte-americano mas que, há muito, conquistou o seu espaço. “Fading Frontier” poderá ser o melhor exemplar que deixarão para a história que sobre eles, um dia, se possa contar.
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