Cinco livros depois e já com um quarto do caminho percorrido, a série mangá The Promised Neverland muda de cenário e deixa para trás a Casa de Grace Fields. Um lugar que, ao contrário de criar os Einsteins e Madames Curies do futuro, se dedicava a educar crianças até à entrada na difícil adolescência, momento em que os seus cérebros acabavam na boca de mostros humanóides, para quem esta iguaria sabia melhor tanto maior o grau de inteligência impresso na mioleira.
No volume 6, intitulado “B06-32” (Devir, 2021), Emma e Ray lideram um grupo de crianças através da floresta e do desconhecido, fugindo aos demónios enquanto tentam descobrir um refúgio e parar para compreender o mundo. A salvação parece estar ao alcance quando conhecem uma rapariga de capuz na cabeça, ainda que tudo pareça bom demais para ser verdade.
Mujika, a rapariga do capuz, vive com Sonju, e são uma espécie de demónios vegetarianos. Ou carnívoros não humanos, e tudo por causa de uma religião a que aderiram há muito. Nas suas palavras, “os humanos de agora são estranhos. Nunca viram o mundo para além das quintas”. São eles que irão falar de lendas que recuam a um tempo longínquo, que assistiu à cisão do planeta em dois mundos sem qualquer ligação entre eles, resultado de um acordo de paz com muitas consequências e ainda mais mazelas. Ainda assim, e apesar de parecerem estar a viver o mais assustador do conto dos Irmãos Grimm, as crianças conseguem descobrir um motivo de esperança e e partem rumo à área B06-32, onde esperam encontrar William Minerva, o invisível arquitecto da Resistência contra monstros e demónios, e fiel depositário da memória humana. Afinal, e um pouco como o carteiro, um bom escapista foge sempre (e pelo menos) duas vezes.
O volume 7 tem como título “Decisão” (Devir, 2021), e marca o momento em que a criançada consegue chegar à área B06-32, o lugar onde poderá nascer uma nova esperança. Porém, no lugar de Minerva encontram um tipo com ar de rocker mal cuidado, que come bolachas de uma lata que nem uma velhinha, segurando na mão uma chávena vazia que já conheceu dias melhores.
Este rapaz, que não quer revelar o nome, era um sénior, o capataz de uma quinta chamada “Glory Bell”, que fugiu com um largo grupo treze anos antes, e que tem levado uma vida tranquila no bem apetrechado e sustentável abrigo construído por William Minerva, onde há água quente, quartos com edredons fofos e até uma horta.
Tendo rejeitado qualquer ideia de esperança ou compaixão, o “velhote” – nome com que a criançada o decidiu baptizar na falta de um BI – ver-se-à obrigado, com a promessa de voltar a ter o abrigo só para si, a servir de guia a Ray e Emma, atravessando um deserto castigado pelo tempo e uma floresta onde há muitos dentes arregalados à espreita. Para quem gosta do universo mangá, esta é sem dúvida uma das séries mais incríveis em edição nacional.
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