Lombadas coloridas, um casamento perfeito entre texto e ilustrações e uma dupla algo disfuncional que, por acaso ou nem por isso, vai subindo posições no ranking amador – e longe da maioridade – dos detectives de topo, ganhando reputação e estima numa escola onde nem sempre é fácil sobreviver.
A liderar a dupla está Rory Branagan, um miúdo que vive obcecado com o desaparecimento do pai, que partiu sem dizer nada quando este tinha apenas três anos. Talvez por isso Rory tenha decidido seguir os passos de Sherlock Holmes, tendo já descoberto que o pai andava metido em negócios algo obscuros. Uma descoberta que contou com a colaboração de Cassidy Callaghan, a sua melhor amiga e cúmplice, com quem formou a dupla Gata e Fatal.
“Chega uma altura na rotina escolar de todas as crianças em que devem abandonar a protecção dos professores… e entrar no covil das Senhoras da Cantina”, que rosnam como dragões a quem caiu mal a refeição. A menina Dinefield até que é simpática, fazendo que toda a gente goste de tarte de pêssego à sobremesa, mas “A Terrível Senhora da Cantina” (Porto Editora, 2021), a quem muitos chamam Dona Sapo quando esta está a uma distância considerável, faz com que toda a miudagem pense duas vezes antes de pedir porções extra – e muito menos fazer qualquer comentário sobre a comida servida no refeitório.
A distracção perfeita para estômagos menos felizes surge quando a escola organiza o Concurso de Talentos de São Bartolomeu, onde cabem números ridículos, danças arrojadas e as participações algo improváveis do professor Meeton, sempre de cabelo impecável e sapatos fixes – que faz parapente, desce cataratas de canoa e conhece pessoas famosas -, o professor Bolton, que arrasa com um rap sobre ortografia – e “o uso incorrecto da letra xia” – ou da própria Dona Sapo, que mostra aqui uma faceta que poucos conheciam. Um concurso que se vê interrompido quando a meio se dá um crime mortal, cabendo à dupla Gata e Fatal a sua resolução – ou então por Stephen Maysmith, o inspector da polícia que parece aprovar o espírito de missão de Rory (mesmo que não o demonstre). O suspeito óbvio dá pela alcunha de Sentinela – alguém que anda muitas vezes com uma lança na mão e se passa totalmente se lhe mexerem nos óculos -, mas cedo se percebe que todos são suspeitos, até porque o álibi do Sentinela parece ser de ferro: “– Estava a fazer cocó”.
Em “O Salto da Morte” (Porto Editora, 2021), Rory continua a descrever o seu como “o melhor pai de todos os tempos”, mesmo que esses tempos se limitem a três voltas ao calendário. Numa carta secreta recebida há meses, o pai dizia que “estava escondido no sítio onde fora mais feliz”, o que lança Rory e Cassidy em mais uma missão, desta vez numa ida ao Grande Festival do Carro, organizado por Michael Mulligan, um famoso e perigoso barão do crime – que parece ter algo a ver com o desaparecimento do pai de Rory.
Uma história com muita adrenalina, onde se tentam bater recordes mundiais na bola da morte (um misto de poço da morte e de montanha-russa), se compreende a importância de ter um cão-salsicha e se ouve uma frase que poderá ser a solução para o mistério de um acidente que teve um dedo sabotador: “– Agarrado Comodoro”.
As ilustrações de Ralph Lazar são um mimo, onde o preto surge como cor entusiasmante, bem ladeada pelo cinzento e o branco que, por vezes, parece querer tirar uma radiografia urbana. Os planos são variados, com um ar cinéfilo, em desenhos que conferem um grande dinamismo a esta história onde o sentido de humor a as agruras de um jovem problemático continuam em alta.
Desta colecção, escrita por Andrew Clover e publicada em Portugal pela Porto Editora, estão também disponíveis os seguintes títulos: “As Aventuras de Rory Branagan“, “Brigada Canina“, “O Covil do Perigo”, “O Grande Golpe” e “O Grande Golpe do Diamante”.
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