Num momento em que os cowboys parecer estar em alta no universo da banda desenhada, entre reedições e séries novas que dão vida a personagens intemporais, não deixa de ser curiosa a edição de “O Último Homem…” (Gradiva, 2021), história que assinala a despedida ao último cowboy, cuja era dourada está prestes a terminar com a chegada em força dos comboios.
Este western aos quadradinhos, originalmente lançado pela editora francesa Bamboo em 2019, é assinado por Jérôme Félix e Paul Gastine, que tinham sido já parceiros na série de aventuras L’héritage du Diable, publicada em quatro tomos entre os anos de 2009 e 2016.
Dois-Colts é um cowboy à antiga, um transportador de gado que tem o trabalho de uma vida em risco com a imparável expansão ferroviária. Todos parecem adaptar-se ao progresso menos ele, que tenta evitar que a frase mais soletrada do momento lhe faça mossa: “Amanhã, acabaram-se os cowboys”.
Mesmo com trabalhos bem pagos, Dois-Colts recusa-se a trabalhar para alguém mas, num mundo onde a mudança é inevitável, também ele decide arriscar – um pouco com a inesquecível personagem de “Gente Independente”, esse incrível romance de Hálldor Laxness. Na companhia de de Bennett, um jovem de 20 anos com algumas limitações intelectuais, Russell decide começar uma nova vida como rancheiro no Montana, mas uma paragem em Sundance termina em assassinato, levando à expulsão de Bennett da povoação que, em desespero, regressa mal acompanhado para virar Sundance pedra por pedra.
Ambição, abuso de poder, corrupção e injustiça, mas também um imenso sentido de honra e respeito, numa história à antiga sobre a forma como a humanidade, no seu todo, vai lidando com a mudança – mesmo que esta seja passada de geração em geração como um testemunho olímpico.
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