Andam à procura de um filme natalício mas não querem levar com o regresso daqueles bonecos azuis, ou sequer saber qual foi o último desejo do gato calçado? Pois bem, “O Natal do Bruno Aleixo” (O Som e a Fúria, 2022), imaginado – e realizado – pela dupla de sonho João Moreira/Pedro Santo, é bem capaz de caber na meia que penduraram algures aí em casa.
Depois de “O Filme do Bruno Aleixo” ter estado longe do contentamento, até mesmo para os mais habitués, João Moreira e Pedro Santo sacaram de ases, manilhas e trunfos e, numa prendada mistura entre realidade e animação, oferecem agora um festim Aleixiano com direito a embrulho com laço, que poderá fazer rir mesmo aqueles que têm andado a dormir e não conhecem ainda o universo de Bruno Aleixo, Busto, Bussaco e companhia.
Já se sabe que o Natal, entre (in)desejados reencontros familiares e sonhos cozinhados com açúcar a menos, tem tudo para correr mal. Foi o caso Bruno Aleixo, o cão falante com cara de Ewok e rabugice de sobra que, na companhia do Bussaco, foi vítima de um atropelamento pelas costas. Um acidente que o deixou num coma que, de início, todos pensam ser a fingir, uma vez que, como muito boa gente por aí, Bruno Aleixo vive assombrado por recordações de prendas manhosas, refeições sensaboronas e momentos natalícios que não queremos que acabem em álbuns fotográficos.
Um pouco como acontece no Conto de Natal de Dickens – mas sem moral, pois claro -, Bruno Aleixo ver-se-á incomodado pelas memórias passadas, presentes e futuras de vários natais, incluindo o fim da infância na Bairrada – quando os brinquedos deram lugar à roupa e a “livros de porcaria” –, o primeiro Natal de família alargada no Brasil, a consoada passada em casa do Ribeiro – que, por esta altura, tinha apenas 85 por cento de invisibilidade – e do seu tio desfocado, o terrível Natal passado em casa da ex-sogra – onde, para precaver o jantar tardio, levava uma sandes de paio no bolso do casaco – ou o Natal do futuro – onde os médicos parecem ser todos feitos de metal e parafusos.
Cada um dos natais – direcção de arte, conceito e storyboard – está entregue a um diferente ilustrador – Joana Afonso, Rafael da Silva Hatadani, Jorge Ribeiro, Fábio Veras e Kachisou -, o que confere diferentes ritmos e tonalidades a esta viagem natalícia onde, no lugar do pai natal e das renas, descobrimos um psicólogo com sentido de missão, amigos para todas as ocasiões, palavrões amansados na legendagem e, claro, toda a rabugice, propensão para a chantagem e gosto pelos esquemas sem os quais já não podemos passar. Feliz Natal, Bruno Aleixo.
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