“Sara” (G. Floy, 2022) – volume único que compila uma mini-série de seis números editados originalmente pela TKO Studios em 2018 – tem, por trás, um trio de respeito: argumento de Garth Enis (Justiceiro, Preacher, The Boys), arte de Steve Epting (Velvet, Capitão América) e cor de Elizabeth Breitweiser (The Fade Out, Outcast). O ano é 1942; o lugar, uma zona de ocupação nazi da Rússia; a protagonista, Sara, que tem uma visão muito pragmática sobre o seu instrumento de morte: “A arma tem um nome composto por palavras e números. Uma medida em milímetros, uma casa decimal, todos condizentes com um instrumento de precisão. Chama-lhe espingarda, disseram-me. Mas é uma arma”.
Estamos no segundo inverno do cerco de Leningrado. Há “um coronel dos boches” a caminho, e pede-se um tiro certeiro para levantar a moral das tropas – se possível entre os olhos. Os dias são iguais, uns atrás dos outros. “Vamos todos os dias à procura de sarilhos. A maior parte trabalha em pares, atirador e vigia. Outras preferem ficar sozinhas”. Quanto à ideia de pátria, essa há muito que ficou pelo caminho: “Pela pátria. Lembro-me do rasgo que produzia, o conforto a cada passo pelo inferno. Mas esses dias já passaram. As palavras de que preciso, não posso dizê-las. Para acompanhar a bala que não posso nunca disparar”.
De entre o grupo destas mulheres atiradoras, a mais letal é Sara, que teve como mestre Valery Zelenkov, um atirador furtivo que tinha começado a matar fascistas em Espanha, em 1937. Uma rapariga solitária e dissimulada, que tem sobrevivido graças a lições de vida como esta: “Consegues convencer qualquer um do que quiseres, desde que a tua história seja a certa”. Ou, ainda, este mantra que antecede o disparo: “Espera, espera, espera. Observa”.
O desafio maior surge na forma de um atirador furtivo do outro lado da barricada, que começa a mexer com o lado emocional de Sara e a lançará numa demanda feita de lealdade e sacrifício, onde a razão cede lugar à emoção e acaba em epifania. Um livro sobre a guerra e todas as suas mortes, físicas e mentais.
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