Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Retratos da Fundação
“A religião dos livros” | Carlos Maria Bobone
Muito da imagem associada às livrarias, aos livreiros e aos livros é tão romanesco como o que vai dentro deles. Existem, sim, o lado iniciático, o cenário algo apocalíptico e o papel do livreiro como guardião da cultura e de preciosidades esquecidas. Todavia, apesar desta retórica da resistência, há fenómenos recentes estimulantes, como a venda na internet ou as aldeias de livreiros, e ainda existem livrarias que respiram à vontade. Este é um livro sobre a história e a vida dos livreiros e das livrarias que terá certamente algumas historietas rocambolescas, mas que se guia pelo olhar da normalidade. Fala da diversidade da oferta actual, de bibliófilos, bibliotecas, leilões e livrarias independentes. Fala de esperança, porque enquanto houver livros, haverá muito mais do que leitores.
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Carlos Maria Bobone é alfarrabista. Começou ainda adolescente a vender livros na feira da Rua Anchieta, trabalhou na Livraria Artes e Letras enquanto tirava o curso e, depois de se licenciar em Filosofia, foi trabalhar para a Livraria Bizantina, fundada pelo seu pai. Colabora também com o Observador, onde escreve, claro, sobre livros.
“Avieiros, hoje” | João Francisco Gomes
Nos séculos XIX e XX, o mar revolto obrigou centenas de famílias de pescadores da Praia da Vieira (Leiria) a procurar uma alternativa à pesca de arrasto tradicional da costa, impossível de praticar com segurança durante o inverno. Encontraram-na na pesca fluvial no rio Tejo e assim iniciaram um dos movimentos migratórios internos mais marcantes em Portugal: primeiro de modo pendular (inverno no rio, verão no mar) e depois fixando-se em definitivo no Ribatejo. Esta fusão deu origem a uma cultura ribeirinha com características próprias (barcos, casas, gastronomia e religião), mas muito marginalizada, sobre a qual o neorrealista Alves Redol escreveu em 1942. Hoje, ainda subsistem alguns vestígios desta vivência nas margens do Tejo e na Praia da Vieira. Este livro vai em busca deles, antes que desapareceram.
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João Francisco Gomes (Leiria, 1995) é jornalista e escreve no Observador desde 2016, maioritariamente sobre as religiões, a espiritualidade, o ambiente e as alterações climáticas. Recebeu, em 2017, o Prémio de Jornalismo Dom Manuel Falcão, que distingue trabalhos jornalísticos de temática religiosa. Foi um dos autores de uma série de reportagens de investigação sobre os abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal, publicada em 2019 e distinguida com vários prémios de jornalismo, incluindo o Prémio Gazeta de Multimédia. É licenciado em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social e mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
“Castro Laboreiro” | Luísa Pinto
Desde tempos imemoriais, duas vezes por ano, toda a parentela, animais e pertences, mudava de casa, de acordo com o clima da serra da Peneda e o calendário religioso. Descia-se às inverneiras (aldeias em vales abrigados) para passar o Natal, subia-se às brandas (pequenas povoações em terras elevadas e soalheiras) para passar a Páscoa. Todas as famílias da freguesia de Castro Laboreiro, concelho de Melgaço, por mais pobres que fossem, tinham duas casas, muito semelhantes em dignidade e dimensão. O presente livro é dedicado a esta prática de nomadismo, ainda existente, mas quase em extinção, devido ao despovoamento e às alterações climáticas. Um modo de vida singularíssimo que, em breve, se tornará narrativa histórica com contornos de lenda.
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Luísa Pinto é licenciada em Comunicação Social pela Universidade do Minho, tendo ingressado na redação do Porto do jornal Público em 1998. Em 2011 fez uma viagem pelo mundo em família, relatada semanalmente na revista Fugas, mantendo a colaboração com o Público e outras revistas como a Evasões ou a TimeOut. Foi co-autora do projecto Hotelandia sobre os bons exemplos da hotelaria portuguesa. Está desde 2021 no Rostos da Aldeia, plataforma que publica histórias de todos os que contribuem para que o despovoamento não seja uma tendência inexorável, relatando casos inspiradores de pessoas que lutam para o inverter.
Ensaios da Fundação
“Proteção Social no Portugal Democrático” | Rui Branco
A protecção social representa uma das maiores conquistas da revolução de Abril. Mas, no dia-a-dia, é fácil perder-se de vista o Estado-Providência, que, a cada cidadão e «do berço à campa», concede prestações e serviços e solicita impostos e contribuições sociais. O que é? Como se financia? A quem e como concede benefícios? Que problemas enfrenta? Este ensaio traça os caminhos de reforma do Estado social, desde a transição democrática até 2010, a Grande Recessão, o governo da Geringonça e a pandemia de Covid-19. Analisa a evolução dos pilares tradicionais da proteção social, como as pensões, o mercado de trabalho e o desemprego, mas também áreas historicamente subdesenvolvidas, como o combate à pobreza, a proteção na infância e a conciliação entre trabalho e família, e ainda a maior ruptura com o passado: o Serviço Nacional de Saúde.
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Rui Branco é doutorado pelo Instituto Universitário Europeu (Florença), é professor associado com agregação na Universidade Nova de Lisboa, onde ensina no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. A sua investigação tem incidido sobre as políticas de proteção social e mercado de trabalho.
“Oceano de Plástico” | Paula Sobral
É simples comprovar que o plástico é o maior intruso do Oceano. Basta um curto passeio numa praia para constatar que mais facilmente se encontra um objecto desse material do que uma concha. Estima-se que, no limite, existam já 234 milhões de toneladas de lixo marinho na superfície oceânica. Daí ser tão urgente saber mais e agir para travar este flagelo ambiental. O presente ensaio explica as origens diversificadas da poluição por plástico no Oceano, o modo como é transportada, como se distribui e quais os seus inúmeros impactos. E, porque o lixo marinho à superfície é apenas a ponta do iceberg, o livro alerta para as mudanças prementes no uso do plástico e apresenta iniciativas nacionais e internacionais já em curso para prevenir e reduzir este problema.
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Paula Sobral é Bióloga, doutorada e agregada em Ciências do Ambiente pela Universidade NOVA de Lisboa. Pioneira na investigação em microplásticos, participa em vários grupos de peritos, nacionais e internacionais, no âmbito da avaliação da poluição do Oceano por lixo marinho e microplásticos, tendo coordenado vários projetos. Fundadora e presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho, promove e desenvolve actividades de divulgação e comunicação de ciência à sociedade.
“Portugal-Brasil: Encontros e Desencontros” | Carmen Fonseca e Letícia Pinheiro
Sabia que, durante a década de 1990, os cidadãos brasileiros se tornaram a principal comunidade estrangeira em Portugal? E que, enquanto residentes, podem candidatar-se a cargos eletivos no Parlamento? Ou ainda que, em 2019, as remessas destes imigrantes para o Brasil atingiram quase aos 250 milhões de euros? A fraternidade luso-brasileira, assente na partilha da língua e de afinidades históricas e culturais, sustenta a narrativa oficial sobre as relações entre Brasil e Portugal. O presente ensaio analisa de forma crítica se e como este discurso influenciou questões de política externa de cada país e interesses e contactos bilaterais, desde finais do século XX. Afinal,de quanta retórica e quantas potencialidades reais é feito o diálogo entre estes países-irmãos?
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Carmen Fonseca é Professora Auxiliar na NOVA FCSH e Investigadora do IPRI-NOVA. É doutorada em Relações Internacionais (2014) pela NOVA FCSH. Em 2012 foi Visiting Fellow na Fundação Getúlio Vargas (Rio de Janeiro). É editora da revista Relações Internacionais do IPRI-NOVA.
Leticia Pinheiro é especialista em política externa brasileira, é doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics and Political Science (1995), professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos/Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ). Foi Pesquisadora Visitante do Latin American Studies – University of Oxford (2012) e do IPRI-NOVA (2020 e 2022).
Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos
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