Priska, Rachel, Anka. Três nomes anónimos, três mulheres judias, três vítimas do Holocausto que foram enviadas para o inferno em forma de campo de concentração. Auschwitz II-Birkenau foi o destino de milhares de pessoas, inocentes, cujo “crime” era ser diferente da “elite” ariana.
A Solução Final, negada imbecilmente por alguns, foi uma das decisão políticas mais negras da história, e o extermínio de milhões de vidas eleva ao estatuto de heróis os que ousaram sobreviver aos desígnios das forças nazis.
Entre esses nomes estão Priska Lowenbeinová, eslovaca, Rachel Abramczyk, polaca, e Anka Nathanová, checa, três mulheres que carregavam consigo um segredo maior que as próprias vidas: estavam grávidas.
Sozinhas, assustadas, viúvas e que perderam a família em condições inimagináveis, deram à luz três bebés. Cada um pesava menos de 1,5 quilos. Ana, Mark e Eva são os nomes desses verdadeiros milagres em forma de pequenos seres, que hoje são um dos maiores testemunhos da coragem de pessoas que viram ser-lhes retirada a humanidade.
São essas histórias que a jornalista britânica Wendy Holden conta em “Os Bebés de Auschwitz” (Vogais, 2015), um documento precioso que revela ainda mais pormenores do horror do Holocausto. Ao longo de mais de 400 páginas, Holden dá voz a Priska, Rachel e Ana, bem como a todos os que sentiram na pele a crueldade obscena da insanidade nazi.
Cru, violento e sem filtros, “Os Bebés de Auschwitz” segue a incrível história dessas três mulheres: primeiro nos guetos, formados pela política do terceiro reich; depois, como prisioneiras no referido campo de concentração; num campo de trabalho alemão onde, desesperadas e esfomeadas, lutaram por esconder a gravidez; e, por último, na pele (e osso) de passageiras de uma desumana viagem de comboio que durou 17 dias e que, felizmente, terminou com a liberdade proporcionada pela chegada dos Aliados.
Através de uma solenidade narrativa assinalável, Wendy Holden ouviu protagonistas, relatos e testemunhos, construindo um dos mais pertinentes exercícios reflexivos sobre a desumanidade nascida da guerra.
Comovente e um elogio à capacidade de resistência e de amar o próximo, “Os Bebés de Auschwitz” leva o leitor a sentir o terror da presença do infame Dr. Josef Mengele, apelidado de Anjo da Morte, as incertezas de uma humilhante seleção cujo veredicto decretava a escravidão ou a morte nas câmaras de gás, a força e coragem de responder «não» a uma pergunta: «Bom dia bela senhora, está grávida?»
Mais do que tudo, a herança deixada por Priska, Rachel e Anka supera fronteiras morais, religiosas ou nacionais, e os seus filhos são um fruto heróico de quem fez da esperança a mais forte das “armas”, pois todos nós, sem excepção, devemos para sempre recordar que o Holocausto existiu e este livro, de forma diferente de muitos outros que exploram o tema, deixa o seu testemunho através de um extraordinário trabalho de pesquisa.
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