Entre a ironia e sarcasmo de Adam Green, a orquestração sumptuosa dos Divine Comedy e o espírito crooner de Scott Walker. É neste universo, povoado de estrelas e meteoritos, que gravita Daniel Knox, um verdadeiro homem-sombra que, apesar de não esconder o rosto como o fazem os Daft Punk ou Burial – ainda que os motivos para o anonimato variem muito de uns para o outro -, parece estar na música e no mundo com alma de eremita.
Chega mesmo a parecer um contra-senso. Ainda que mantenha uma conta no Instagram – neste momento com 1070 seguidores –, uma no tumblr, outra no Twitter – 943 seguidores – e tenha, também, um website oficial – muito críptico, diga-se -, é difícil encontrar muita informação sobre este compositor americano que encontra, como fãs assumidos, nomes como os de Jarvis Cocker, David Lynch, Swans ou Rufus Wainwright.
Em Chicago, o homem é praticamente uma lenda. Diz-se que aprendeu a tocar piano nos lobbies de hotéis e institutos e que, à noite, quando a cidade já dorme, gosta de passear sozinho pelas ruas como uma coruja. Ao terceiro disco, porém, o anonimato parece ter os dias contados. Depois de lançar dois discos que passaram ao lado de muito boa gente informada – “Disaster”, de 2007, e “Evryman For Himself”, de 2011 -, além de ter já composto bandas sonoras e temas para cinema e teatro, Daniel Knox editou este ano um disco homónimo que, a escolher-se um único adjectivo, poderia muito bem ser este: precioso. Ao contrário dos discos anteriores, em que optou pelo sistema do it yourself, o novo trabalho contou com a produção de Greg Norman, qualquer coisa como o braço-direito de Steve Albini.
Lançado em Fevereiro deste ano pela Carrot Top Records, “Daniel Knox” é uma viagem ao estranho mundo americano do compositor americano, feito de longas viagens, de centros comerciais abandonados onde vivem comunidades de fantasmas e do facto de ter crescido no meio de nenhures.
Composto por 10 pérolas preciosas, o disco recupera as memórias de Knox e a infância passada em Spingfield – não há, porém, sombra de qualquer um dos Simpson ou de Mr. Burns -, além de ter nascido a partir de uma colaboração que teve com o fotógrafo John Atwood. Mas vai muito para além das memórias, uma vez que Knox regressa a Springfield várias vezes ao ano, desenhando um novo mapa geográfico onde essas recordações são de novo impressas.
Tendo em primeiro plano uma poderosa voz de barítono, o terceiro longa-duração de Knox conta ainda com uma mãozinha de Brett Sparks (The Handsome Family) nas vozes de fundo de alguns dos temas, e a presença do vibrafone de Thor Harris (Bill Callahan, Swans, Shearwater), tudo embrulhado em muitos sintetizadores, cordas e, sobretudo, magníficos arranjos e uma composição que parece ter sido cerzida à mão, cheia de subtilezas e nuances. No que diz respeito a discos de compositores, “Daniel Knox” junta-se a “Goon” de Tobias Jesso Jr, e a “Carrie & Lowell”, de Sufjan Stevens, como os grandes discos do ano.
A boa notícia é que Daniel Knox vai estar em Portugal em Setembro, onde vai oferecer dois concertos: dia 12 em Coimbra, no Salão Brazil; e, no dia seguinte, na alfacinha Igreja de St. George (à Estrela).
O concerto de Lisboa – com a presença assegurada do Deus Me Livro – é organizado pela Associação Cultural Nariz Entupido, e tem a primeira parte assegurada por Alek Rein, “projecto musical de Alexandre Rendeiro que alia como poucos as sonoridades cruas de uma guitarra não amplificada e letras viperinas” (do press release). Os bilhetes são quase oferecidos – 8 euros -, podendo ser reservados através do e-mail geral@narizentupido.com. É correr (ou mailar) antes que se acabem.
Para mais informações consultar:
Site: www.narizentupido.com
Facebook: www.facebook.com/narizentupido
Evento: www.facebook.com/events/1182535601760839
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