Chamam-se Goodbye ÖLGA e contam com vinte anos no currículo, ainda que sob um nome diferente (já lá vamos). A assinalar o facto, romperam a pausa dos últimos dez anos para lançar, em 2022, um novo trabalho de fôlego, um duplo álbum homónimo (Goodbye ÖLGA, 2022). A banda de João Teotónio e João Hipólito aparece renascida: na bateria senta-se agora Filipe Ferreira e, no baixo, Tiago Fonseca. Para além disso, surgem com um novo nome, revisto e aumentado; após a disputa legal com uma artista americana que reclamou o antigo nome “ÖLGA”, resolveram a questão com ironia e passaram a chamar-se Goodbye ÖLGA.
A banda move-se em águas por estes dias pouco navegadas, ao apresentar um registo ligado de corpo e alma à energia das guitarras. É uma sonoridade com o seu quê de revivalista, que muito deve ao indie rock dos anos 80 e 90.
O trabalho divide-se em duas metades fracturadas, nomeadas pela cor – o disco vermelho agrupa temas mais antigos, e soa no geral mais luminoso, mais solar; já o negro reúne os temas mais abrasivos e soturnos, e também mais recentes, o que dá uma pista da direção que a banda deverá tomar em próximos lançamentos. Uma divisão que, ainda assim, não é estanque: o disco vermelho arranca com a distorção no máximo, em “In Your Head”: fala da fuga de uma vida dita normal, e do preconceito contra aqueles que querem mais do que um emprego das 9h às 5h. Passamos para a energia punk-rock melódica de “The Pill”, a que se segue “You”, uma das composições mais orelhudas do disco. Movido a slide guitar, é um tema descomprimido, assente em malhas de guitarra ligeiramente desafinadas, responsáveis pela sonoridade aquática.
Outro bom momento é “Fool Cool”, onde se vislumbra a energia galvânica de uns DIIV, numa composição bem esgalhada. Mas nem só de rock acelerado se faz o disco vermelho: “Out to Dance” e “Uptown” abrandam o ritmo e passeiam calmamente por cálidas paisagens sonoras, assim como o inspirado “Waves”, momento mais pop do disco.
Voltando a atenção para o disco negro, é de assinalar a energia vibrante dos três temas iniciais: quando arranca “Concrete Falls”, o primeiro nome que atravessa a mente é o dos Sonic Youth, tanto no nervosismo elétrico como no registo vocal, próximo do de Thurston Moore. De assinalar também o fantástico trabalho de bateria de Filipe Ferreira. “Concrete Falls”, “Cop’s Delight” e “Cure for Joy” formam uma tríade de guitarras cheias de arestas, onde pontua a influência do pós-punk e do pós-rock no ADN da banda. Há, mais à frente, uma curva apertada para “Lollabye”, visita ao psicadelismo hipnótico de uns Pink Floyd. Ali se derrama uma balada suave, decorada por um Floydiano solo de guitarra.
Esta metade negra soa-nos mais desequilibrada, em temas como “Only 18”, “Never (I see)” e “Singapore”. Neste último percebe-se a aproximação aos Jesus & Mary Chain, mas instala-se um certo cansaço na enxurrada de guitarras. Por fim, voltamos ao bom terreno dos DIIV na canção que fecha o disco, “The Other Side”. Destaque para o trabalho do baixo a conduzir as operações com segurança.
É de saudar, nos dias que correm, a aposta num sólido e bem recheado disco de rock, entregue com confiança por 4 músicos bem entrosados. “Goodbye ÖLGA”, sejam bem aparecidos.
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