Imaginem um negativo do Disney World, um lugar onde a escola, o parque, a loja de brinquedos ou a carrinha de gelados são geridos por adultos horrorosos, que parecem ter abraçado a exclusiva missão de fazer as crianças infelizes. Pois bem, esse lugar existe – pelo menos na cabeça de David Walliams – e chama-se Ilha Sebenta.
É nessa estranha e infeliz geografia que vive Ned, um rapaz de onze anos que é um ás a andar de cadeira de rodas. Os pais de Ned são, respectivamente, pescador e peixeira, dedicados em exclusivo ao comércio do peixe-sapato – de quem herdaram um perfume que nunca lhes sai da pele. A irmã mais velha, uma miúda de Ned, chama-se Jemina, e tem como divertimento máximo pregar partidas (sobretudo ao irmão). Alguém que se dedica a coleccionar frascos com coisas tão nojentas como leite azedo, bolas de pelo, cera dos ouvidos, cocó de pombos cotão do umbigo ou “aquela coisa estranha, de cor amarela, que as joaninhas te deixam ficar no dedo”.
Decidido a livrar-se de toda aquela imundície, Ned acaba por criar, num banho de imersão, o incrível “Slime” (Porto Editora, 2021), um ser aparentado ao pega-monstro que “fica à frente da criação de Stonehenge, ridiculariza o poder das pirâmides do Egipto e faz um cocó viscoso sobre o Monstro de Loch Ness”. Começa assim, na casa de banho, um imparável raide de vingança e redenção, num livro onde, pela primeira vez na história Walliamsiana, o habitué Raj não passa do índice. E onde se descobre que, por vezes, a gosma pode ser fixe.
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