Há uns bons anos atrás, surgiu uma moda que pegou de estaca entre os adultos, ainda que tivesse sido de curta duração. Fala-se aqui dos estereogramas, imagens sem sentido aparente que exigiam que o leitor nelas se perdesse, levando os olhos a um ponto de desfocagem que, a certa altura, o fazia transpor um portal para um mundo em 3D, onde poderia estar um jardim bem arrumado, uma cidade imponente ou um animal fofinho, dependendo do criador de tão estranho e inquietante brinquedo.
Recentemente, chegou às livrarias “E tu, vês o que eu vejo?” (Bruáa, 2015), um livro apontado aos mais pequenos que, estando longe de os lançar num mundo de olhares desfocados, os apresenta antes a um livro mágico, feito de muitas supresas, que convida à adivinhação de nomes e formas de animais que se escondem numa folha pouco impressa, até que a luz revele todo o cenário em que cada um dos animais presentes se move.
As instruções chegam no início e não enganam: ler a pista, tentar adivinhar o animal e as letras que faltam e, por último, deixar que a luz atravesse a página para que os mais pequenos possam soltar um imenso bruáa, entre risos, antecipando o desafio que se seguirá na página seguinte, construída sobre uma grelha quadriculada e impressa com formas que viajam entre triângulos e barbatanas de tubarão.
Publicado pela primeira vez em 1979, este livro escrito, desenhado e idealizado por Ed Emberley é, para além de um pequeno acto de magia, uma homenagem ao livro enquanto objecto, feito de cores vivas, do cheiro a tinta e de uma imaginação que nunca poderá ser devidamente replicada em qualquer e-reader. Solte-se um imenso e muito devido bruáa.
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