Já são conhecidos os filmes vencedores da 8ª edição do Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, que decorreu entre 10 e 14 de Novembro no Cinema São Jorge, em Lisboa.
O documentário “First Year Out” (Première Année Dehors), de Valérie Manns (França), recebeu o prémio para Melhor Longa-Metragem. O júri, composto por Margarida Gil, Sam Lahoud e Sonja Prosenc, comentou: “O filme mostra a vida de três homens, vistos e seguidos pelo olhar de uma realizadora, e reflecte sobre a incapacidade deles se tornarem livres e autónomos, castrados pelo isolamento da prisão a que foram condenados. A voz da narradora apenas mostra, sem os julgar, a profunda e trágica condição daqueles homens, que se torna metáfora pungente da condição humana. A ausência da mulher no filme é aparente, contudo, a mãe, como figura de suporte, é uma imagem sempre presente”.
Foram ainda atribuídas duas Menções Honrosas aos documentários “Elas Também Estiveram Lá“, de Joana Craveiro (Portugal), e “Esther Ferrer. Threads, of Time” (Esther Ferrer. Hilos de Tiempo), de Josu Rekalde (Espanha). “Elas Também Estiveram Lá” foi escolhido pelo júri: “Pela imensa criatividade, mistura de formatos, do teatro à reportagem, filme de arquivo e linha pedagógica e uma rara erudição de Cinema, a fazer evocar as Histoires du Cinéma de Godard, bem como a explícita citação de filmes portugueses. Mostra trabalho, ideias de cinema, inteligência e humor”.
Relativamente a “Esther Ferrer – Threads, of Time”, o júri argumentou que “o filme mostra uma mulher artista, a sua vida e uma obra sempre em pensamento e corajosa navegação pública. A forma directa e sensível como a realizadora dialoga com a artista cruza duas artes e instala o Cinema como interlocutor entre as artes visuais”.
O júri para Melhor Curta-Metragem, composto por Annie Gava, Joana Sales e Teresa Sala, atribuiu ex-aequo o prémio às ficções “Ferrotipos“, de Null Garcia (Espanha) e “The Bath” (Le Bain), de Anissa Daoud (co-produção Tunísia e França). “Ferrotipos” foi escolhido “pela capacidade de apresentar uma situação que está numa área cinzenta do sexismo. Uma situação que à primeira vista não é facilmente identificável como violência e que coloca a vítima em dúvida. Este filme tem o dom de colocar quem o assistir tão desconfortável quanto a personagem principal, que se encontra um pouco perdida em descobrir como identificar e reagir a uma (possível) situação sexista menos óbvia. No final todas/os/es nos sentimos aliviadas/os/es e inspiradas/os/es pela encorajadora atitude da protagonista”.
Relativamente à outra curta vencedora, o júri afirmou: “Premiamos The Bath pela capacidade de apresentar uma questão ainda tabu para os homens e de o fazer de uma forma tão sensível. Descobrimos que tem um final poderoso com uma bela reviravolta, mostrando-nos um inesperado e terno início apaziguador. Esta forte história é contada sob um olhar gracioso, com a câmara acompanhando os personagens com fluidez”.
Foi atribuído ex-aequo também o prémio de melhor filme da Competição Travessias. O júri, composto por Inês Lourenço, Maria Mendes e Rodrigo Lacerda escolheu “Nha Mila“, de Denise Fernandes (co-produção Portugal e Suiça) “por ser um filme sobre memórias e travessias migratórias, mas também sobre esquecimentos e imobilidades, transmitidas por um imenso indizível submerso nas vidas e rostos de quatro mulheres cabo-verdianas”, e “We Are Not Dead Yet” (Nous ne Sommes Pas Encore Morts, de Joanne Rakotoarisoa (França), “por retratar com subtileza e sensibilidade as expectativas, ansiedades e medos de um momento muito específico na travessia da vida; e também pela direção firme e sensível dos actores, que souberam transmitir aos personagens o tom preciso do que o filme quer demonstrar”.
Na secção Começar a Olhar – Filmes de Escola, os júris Carlos Viana, Mafalda Roma e Miguel Gaspar atribuíram o prémio ao filme “In the Woods” (U Sumi), de Sara Grguric (Croácia), argumentando que “Sara Grguric, na sua curta, mostra-nos maturidade narrativa, na direção de atores, um domínio no modo de filmar, no tratamento de som e imagem dignos de ser premiado neste festival, para que se incentive um promissor percurso na realização em cinema”. Foram ainda atribuídas duas Menções Honrosas: à ficção “The Ducks” (Los Patos), de Ángela Arregui Chavarría, (Espanha) e ao documentário “Ferry Tale“, de Michal Shanny e Quan Nguyen Hong (Roménia).
Finalmente, o Prémio do Público foi para a curta-metragem documental “Poéticas do Canto Polifónico“, de Maria do Rosário Pestana (Portugal), e a longa-metragem “Teenage Lockdown Tales” (Mes 15 Ans dans ma Chambre), de Marie Pierre Jaury e Charlotte Ballet-Baz (França).
À semelhança do sucedido nas edições anteriores, os troféus dos prémios foram concebidos e executados pelas alunas e alunos da turma de cerâmica da Escola António Arroio.
Olhares do Mediterrâneo – Women Film Festival é o primeiro e mais antigo festival de cinema no feminino em Portugal, e é o único dedicado à cinematografia da bacia do Mediterrâneo. O Festival é um projecto do grupo Olhares do Mediterrâneo e do CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia).
MELHOR LONGA-METRAGEM
First Year Out
Elas Também Estiveram Lá – Menção Honrosa
Esther Ferrer. Threads, of Time – Menção Honrosa
MELHOR CURTA-METRAGEM – Ex-aequo
Ferrotipos
The Bath
PRÉMIO TRAVESSIAS – Ex-aequo
Nha Mila
We Are Not Dead Yet
PRÉMIO COMEÇAR A OLHAR
In the Woods
The Ducks – Menção Honrosa
Ferry Tale – Menção Honrosa
PRÉMIO DO PÚBLICO
Poéticas do Canto Polifónico – CURTAS
Teenage Lockdown Tales – LONGAS
Sem Comentários