Nascida no ano de 1937 em San Sebastían, Esther Ferrer é apontada como uma das grandes criadoras espanholas no que à performance diz respeito, distinguida com prémios como o National Fine Arts Award (2008) ou o Velázquez Award (2014).
Resultado do trabalho de uma equipa multidisciplinar coordenada por Josu Rekalde, também artista, professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade do País Basco e um verdadeiro connaisseur da obra de Esther Ferrer – de quem é amigo desde princípio dos anos 1980 -, “Esther Ferrer. Threads Of Time” – “Esther Ferrer. Hilos de Tiempo” no original – é um documentário que permite um olhar transversal sobre a obra de Esther e o seu processo de criação, invenção e diálogo com o mundo – e com quem nele habita.
A viagem começa a bordo do projecto John Cage’s Train. In Search of Lost Silence. No ano de 1978, durante três dias e num comboio que partiu da cidade de Bolonha sempre com um diferente destino, Esther Ferrer, a convite de Cage, escreveu a giz números no chão de cada vagão, preenchendo depois o espaço vazio com fios. Uma instalação espacial que recebeu o nome de The Thread of Time, e que propunha ao espectador uma muito experimental interpretação do conceito de tempo – e, com isso, a sua própria representação.
O documentário, em grande parte preenchido com a voz de Esther Ferrer, parte assim da influência que John Cage teve no seu trabalho, sobretudo com o seu alargado, inesperado e irreverente espectro musical, ao olhar o mundo como uma incessante banda sonora na qual o silêncio – mas também aquilo a que tínhamos aprendido a ouvir como ruído – desempenhava um papel fundamental. Cerca de quarenta anos depois, Esther é convidada a reactivar o trabalho feito no comboio de Cage, servindo este momento como trampolim para uma viagem que abarca as muitas áreas de trabalho de Esther, que olha para o seu processo de arte como uma aprendizagem em nome próprio e de interrogação do – e com o – outro.
Uma carreira onde descobrimos a confrontação com a ideia patriarcal do corpo, a irreverência, o poder do incómodo, o questionamento da perspectiva convencional de género, uma relação pouco académica mas muito apaixonada com a matemática e a geometria, a presença do envelhecimento. Sempre através de um olhar feminino que não vira a cara à luta: “Sou uma feminista desde que me levanto até me ir deitar”, diz a dado momento. Um documentário entre a biografia, o documento histórico-artístico e a performance contemporânea que, mais do que revisitar o passado, procura dialogar com ele. Interessante mesmo para quem olha de lado para a arte contemporânea ou o seu lado mais performativo.
Competição Geral | Longas-Metragens
QUI 11 NOV • 21H30 • SALA 3
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