Norbert, 44 anos, 12 anos de pena cumprida. Raphael, 58 anos, 31 anos de pena cumprida (tinha sido condenado a perpétua). Yamine, 22 anos, 2 anos de pena cumprida. Três homens que, durante um ano e após o momento da sua libertação, foram acompanhados pela realizadora Valérie Manns, uma experiência que veio a resultar no documentário “First Year Out” – “Première Année Dehors, Jounal de Bord” no original -, que será exibido na edição deste ano do Olhares do Mediterrâneo.
É curiosa a forma como Valérie Manns decidiu filmar esta viagem, contrapondo, a um mundo feito de hesitações, medo, insegurança e a tentação da desistência, um outro mais alternativo: luminoso, natural e, ao mesmo tempo, esmagador, de tão aberto para quem se habituou à rotina e a um espaço delimitado por tecto e paredes.
Valérie Manns mostra-nos o universo de associações e profissionais encarregues, pelo sistema de justiça, de fabricar uma rede de segurança mínima para estes homens, tratando de os ajudar na reintegração e lembrando-lhes que a liberdade está longe de estar ganha. O que sobressai, porém, é que se trata de uma luta individual, difícil, por vezes sufocante, travada sobretudo na solidão mental de cada um, que vai para muito para além das questões práticas, administrativas e profissionais.
Norbert tenta não acelerar muito as coisas, sem grande pressa para reencontrar os filhos que não vê há nove anos. Mentalmente instável, vê sucederem-se as reuniões com terapeutas e assistentes sociais, que procuram ajudá-lo a descobrir um rumo – ou, pelo menos, a encontrar uma base confortável; Raphael sente-se tonto com a imensidão da floresta, tentando trocar a reabilitação por uma relação com um senhora mais velha a que, religiosamente, chama de “mãe” – o que leva os assistentes sociais a mostrarem-lhe que o caminho da reabilitação não passa por aí; apesar de todos os seus amigos estarem na prisão, Yamine parece ter encontrado um certo equilíbrio, fechando os olhos à tentação do dinheiro fácil enquanto ganha o suficiente numa empresa de demolições. Isto até desaparecer do mapa – ou, pelo menos, do filme.
Valérie Manns não deixa de mostrar a conversa e os esquemas usados por este trio para lidar com o sistema judicial, mas também o falhanço como um passo obrigatório no caminho para o regresso possível à vida. A incerteza será sempre o sentimento dominante, como uma moeda atirada ao ar sem que se saiba de que lado irá cair. Afinal, como se ouve a dado momento, a liberdade atirada à cara magoa.
Competição Geral | Longas-Metragens
SEX 12 NOV • 21H30 • SALA 3
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