Em tempos dominados pela era #MeToo, “Working Woman”, filme realizado pela israelita Michal Aviad, é matéria viva para alimentar discussões ou aulas de Cidadania sobre o assédio sexual no trabalho e a zona cinzenta que, por vezes, conduz à inacção, à impotência e ao silêncio.
Com marido, três filhos e uma série de contas por pagar, Orna decide entrar num novo mercado laboral, contando com o patrocínio de Benny, um homem habituado a ter tudo o que quer, para vender apartamentos de luxo num arranha-céus ainda por nascer. Com os contactos de Benny e a boa conversa e espírito de improvisação de Orna, a dupla parece estar destinada ao sucesso, mas os planos de Benny vão muito para lá do mero jogo profissional.
Ao invés de um filme panfletário ou de cair no melodrama, Michal Aviad alimenta emoções fortes em modo conta-gotas, num filme que respira autenticidade e onde o espectador se irá sentir encurralado e asfixiado na teia que Beny vai tecendo, sem grande pressa, em redor do pescoço de Orna. Os recursos fílmicos empregues são limitados, vivendo sobretudo de espaços vazios, uma claustrofobia física e emocional e silêncios vários. Mais do que respostas, “Working Woman” convida a uma reflexão individual, a um estado introspectivo sobre o terror do que é ser vítima.
A dinâmica entre Liron Ben-Shlush (Orna) e Menashe Noy (Benny) é notável, como também o é a longa travessia de Orna, feita de surpresa, espanto, letargia, medo e, finalmente, desafio, mesmo que o conceito de justiça surja longe do cliché hollywoodesco ou dos finais embrulhados com papel brilhante e laço a acompanhar.
Com um realismo muito subtil, “Working Woman” retrata, de forma exemplar, o tema do assédio sexual e das relações laborais, quase sempre desequilibradas entre homens e mulheres no que toca ao poder e à violência, num drama a que se assiste como um thriller psicológico. Muito bom.
Competição Geral | Longas-Metragens
SAB 13 NOV • 21H30 • SALA 3 • Cinema São Jorge, Lisboa
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