Bill Bryson consegue ser um dos mais inovadores escritores de não-ficção do nosso tempo, título atribuído graças à criatividade efervescente, ao coloquialismo e ao modo de escrita com que nos presenteia com as suas obras, criando um cariz bastante ficcional. “Aquele Verão” (Bertrand Editora, 2015) vem suceder a “Breve História de Quase Tudo”, o marco na carreira do autor que o catapultou para as luzes da ribalta. Mas consegue “Aquele Verão” prender o leitor como fez o seu antecessor? Sim, consegue.
Já faz parte da rotina de Bill Bryson vaguear entre os temas científicos, históricos e diarísticos nas suas obras. No entanto, “Aquele Verão” tem como tema central não um acontecimento, mas sim o Verão de 1927, com todos os seus acontecimentos e personagens que, nas palavras do autor, «independentemente do que se possa dizer, foi um grande Verão.»
A viagem começa com Charles Lindbergh a realizar a primeira travessia atlântica sem escalas, desafiando as leis da probabilidade ao realizá-la sozinho e num aparelho voador não preparado para tal façanha. A história da aeronáutica balança-se com o retrato de uma América esperançada, pós-Primeira Guerra Mundial e pré-crash da Bolsa em 1929. Não admira que a narrativa esteja recheada de personagens como Charles Lindbergh, Babe Ruth, Lou Gehrig ou Henry Ford, nomes que, aliados à criatividade de Bryson, caracterizam bem os “loucos anos 20”.
No entanto, os míticos home runs de Ruth ou o Spirit of St. Louis de Lindbergh não chegam para satisfazer o leitor, é sim a coloquialidade com que o autor escreve que agarra o público desde o primeiro capítulo. Livros deste género levam tempo a serem lidos, mas Bryson carrega a sua narrativa com ironia, sarcasmo e subjectivismo, que marcam o compasso de uma obra rítmica e de leitura fluida.
Estes heróis de 1927 poderiam muito bem ser os heróis deste Verão, pois, mais do que falar da História, Bryson explica a intemporalidade dos seus actos, transformando-a em algo delicioso. E o nosso Verão também, provavelmente.
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