“Não pretende ser uma obra imparcial. Eu estava a defender as minhas opiniões, entre as minhas descobertas arqueológicas. Peço que o considerem uma narrativa pessoal, escrita de memória.”
Quando, no ano de 1926, Thomas Edward Lawrence – T.E. Lawrence para o mundo literário – escreveu estas palavras, provavelmente estaria longe de saber que, com o passar dos anos, “Sete Pilares da Sabedoria” (E-Primatur, 2020) iria integrar uma lista de obras maiores, acabando por ser imortalizado no grande ecrã num filme realizado por David Lean e com Peter O’ Toole no papel de protagonista. Um título que, antes de Lawrence e dos seus Pilares, havia sido mencionado no bíblico Livro dos Provérbios: “A sabedoria construiu uma casa: ergueu-a com sete pilares”.
Um pouco ao estilo de “Moby Dick”, “Os Sete Pilares da Sabedoria” é um livro difícil de classificar ou catalogar, e que se lê como uma mistura de livro de aventuras, manual sentimental de história, romance com a vastidão do deserto, ensaio etno-antropológico e diário pessoal com fundo militar. Nele, Lawrence descreve os dois anos em que, durante a Grande Guerra, mergulhou a fundo na revolta árabe contra os Turcos (o Império Otomano) que, então, eram aliados dos Alemães. O olhar apurado de Lawrence não esconde uma imensa paixão pela cultura árabe e as suas aldeias, vilas ou cidades, com todas as rivalidades e relações complexas e conflituosas com o dito ocidente. Tal como o coloca o autor logo no arranque, “a história não é a do movimento árabe, mas da minha participação nele. É uma narrativa da vida quotidiana, de acontecimentos mesquinhos, de gente pequena. Não há aqui lições para o mundo, não há revelações que choquem as pessoas”.
Enviado para o meio dos árabes como um estranho, “incapaz de pensar como eles ou de aceitar as suas crenças, mas compelido pelo dever de os conduzir e de desenvolver ao máximo qualquer movimento deles que pudesse ser vantajoso para a Inglaterra na sua luta”, escondendo o carácter e a vontade de criticar ou discordar, Lawrence poderá ser olhado como um dos últimos heróis de um império moribundo, que nos deixou uma nova Ilíada sob a forma de um romance com muito de autobiografia. Uma viagem densa, profunda e reconfortante, que fixou uma época e (quase) um outro mundo.
Thomas Edward Lawrence nasceu no País de Gales em 1988. Fez os seus estudos superiores em Oxford e teve sempre uma paixão por História. Para a sua tese de licenciatura, dedicada ao tema dos Cruzados, viajou pela Síria para estudar os castelos que ali tinham construído. Entre 1910 e 1914, foi assistente de escavações efectuadas pelo Museu Britânico em Carchermish, no Eufrates. Recrutado pelo Exército no início da Primeira Guerra Mundial, em 1917 foi destacado para o Estado-Maior do Corpo Expedicionário do Hejaz, sob o comando do general Allenby. Entretanto, já se destacara no seu papel de oficial de ligação com o Exército Árabe. Fez parte da Delegação Britânica presente na Conferência de Paz em 1919 e, entre 1921 e 1922, foi consultor de Assuntos Árabes na Divisão do Médio Oriente do Departamento Colonial. Morreu em 1935, num acidente de mota.
Sem Comentários