Ano novo, livros novos. O Deus Me Livro continua a divulgar as novidades literárias que vão aterrar nas livrarias nos próximos meses, desta vez com um olhar sobre o que foi preparado pela Quetzal para o primeiro trimestre do ano. Fica tudo o que há para saber, à boleia do press release que chegou à nossa redacção.
O primeiro trimestre do ano de todas as esperanças traz boas propostas de leitura com o cunho Quetzal Editores. Além da reedição há muito aguardada de O Aleph, do incontornável Jorge Luis Borges, estamos a preparar a publicação de Viver Num Mundo Imprevisível, em que Frédéric Lenoir ensina a repensar a vida nestes tempos pós-COVID, vamos recuperar Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, um documento quase esquecido da história portuguesa do século XX, e contamos ainda com espaço para o mais recente romance de Julian Barnes, o assombroso primeiro romance do afro-americano William Melvin Kelley e mais um título da colecção Terra Incognita, que reúne textos de viagens de Eça de Queirós. Entre as novidades 2021, estão também crónicas de Maria do Rosário Pedreira, um divertidíssimo livro de Laurent Binet e outro não menos entusiasmante de Andrew Ridker.
JANEIRO
“Um Tambor Diferente” | William Melvin Kelley
Um clássico. Um autor esquecido e um pioneiro. Uma história de coragem, de independência – e um emblema da luta pela dignidade humana. Um romance com sessenta anos que, devido aos conflitos raciais na América e um pouco por todo o mundo, é mais actual do que nunca. Quando foi publicado em 1962, o livro de estreia do afroamericano William Melvin Kelley caiu como um raio na cena literária de então. O jovem de 24 anos foi comparado a William Faulkner, Isaac Bashevis Singer e James Baldwin – e o The New York Times considerou-o um dos autores negros mais talentosos da sua geração.
“Esteiros” | Soeiro Pereira Gomes
Passam, em 2021, oitenta anos sobre a primeira edição de Esteiros, de 1941 (com capa original de Álvaro Cunhal) – um livro que marcou várias gerações de leitores ao mostrar-lhes personagens que ficaram para sempre na nossa recordação, «os filhos dos homens que nunca foram meninos» (é essa a dedicatória do autor a abrir o romance): Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Saguí. São eles os heróis anónimos de um diálogo entre o humano e a Natureza, a denúncia da injustiça e a busca de redenção, a solidariedade e a denúncia da pobreza e da penúria. É hoje um livro quase esquecido. No entanto, graças à sua ingenuidade, bravura e simplicidade é um documento marcante da história portuguesa do século XX e deve ser relido para que perdure a memória amarga desses anos.
FEVEREIRO
“Viver Num Mundo Imprevisível” | Frédéric Lenoir
«Viver não é esperar que a tempestade passe, é aprender a dançar no meio da chuva.» Este livro funciona como um instrumento para repensar a nossa vida em tempos de crise do pós-COVID-19. Não se detém na análise da pandemia, nem se lamenta pela situação que atravessamos. Pelo contrário, olha em frente: convocando disciplinas como a neurociência ou a psicologia, mas também a obra de filósofos que se preocuparam em desenvolver o conceito de «alegria e serenidade apesar da adversidade» (de Buda a Montaigne, de Lucrécio a Nietzsche, passando pelo seu grande mestre, Espinosa), Frédéric Lenoir, o autor de O Milagre Espinosa, mostra como esta crise é uma oportunidade de mudar a nossa visão de nós mesmos e de melhor nos relacionarmos com os outros e com o mundo em redor.
“O Aleph” | Jorge Luis Borges [Reedição com nova capa]
O Aleph é um livro icónico de Jorge Luis Borges reunindo dezoito narrativas; entre elas, talvez as mais elogiadas e repetidamente citadas, como «O imortal», «Os teólogos», «A escrita do deus» ou «A espera», histórias que mostram as possibilidades expressivas da «estética da inteligência» do autor argentino, fundindo mentalidade matemática, profundidade metafísica e compreensão poética do mundo.
“Adeus, Futuro” | Maria do Rosário Pedreira
Toda a vida de Maria do Rosário Pedreira, de quem a Quetzal já publicou a sua Poesia Reunida (em 4.ª edição), está ligada à «vida dos livros». Além de leitora, autora e editora, manteve durante anos uma crónica semanal no Diário de Notícias, além de um blogue intitulado Horas Extraordinárias, ainda ativo e de grande sucesso na Internet. Este livr reúne os seus textos sobre essa vida extraordinária, ou seja, tudo o que vem nos livros sem, no entanto, falar deles – da queda do Muro de Berlim ao Brexit, do Acordo Ortográfico à descrição dos dias da adolescência, da religião à crise do ensino das humanidades, do fado à crise ambiental –, sempre intermediados por histórias e exemplos de vida comum, ou escritos para pessoas comuns que se reconhecem nesses episódios que constroem o segredo de cada crónica.
“Civilizações” | Laurent Binet
E se tivessem sido os Incas a invadir a Europa e Colombo não tivesse chegado à América? O romance – tão divertido como A Sétima Função da Linguagem – parte da premissa de que é possível reescrever e reconstruir a História. Binet imagina que Cristovão Colombo nunca descobriu verdadeiramente a América e que foram os Incas (em 1531) a chegar à Europa, chefiados por Atahualpa, o 13.º e último imperador inca. Só que, ao contrário do que aconteceu nos séculos XV e XVI, os incas já conhecem o ferro e dominam os cavalos, além de terem anticorpos contra as doenças europeias. Por seu lado, a Europa é um continente à deriva, com populações famintas à beira de uma revolta e perseguições religiosas, piratas a atacar os portos, batalhas que destroem cidades e aniquilam exércitos. Laurent Binet, numa história exagerada e delirante, muda o destino da globalização: como seria hoje o mundo que herdámos tivesse o império Inca assaltado a Europa?
“Os Altruístas” | Andrew Ridker
Um romance sobre dinheiro, privilégio, política, cultura universitária, namoro, infidelidade, indústria cervejeira – e o que significa «ser uma boa pessoa». O The New York Times considerou Os Altruístas um primeiro romance «inteligente, divertido e extremamente seguro». Há muito tempo que não havia um romance tão festejado pela crítica. Uma narrativa sombria e divertida com a veia de Jonathan Franzen ou marcas que lembram a prosa de Philip Roth e Zadie Smith.
MARÇO
“O Homem do Casaco Vermelho” | Julian Barnes
Uma aventura em Londres. Em junho de 1885 três franceses chegaram à capital inglesa para o que se chama «intelectual shopping»: visitar livrarias, exposições e bons alfaiates; encontrar-se com escritores, pessoas das artes e da alta sociedade – e conhecer de perto os últimos avanços da ciência. Eram o príncipe Edmond de Polignac, o conde Robert de Montesquieu e o plebeu Samuel Pozzi, médico-cirurgião e ginecologista, livre-pensador – o homem do casaco vermelho retratado na célebre tela de John Singer Sargent. Com o humor e a leveza da sua escrita, Barnes tece uma enorme e detalhada teia de relações pessoais, artísticas e literárias, e de intercâmbio das ideias e de gosto através do Canal da Mancha. É um livro de viagem e, ao mesmo tempo, uma deliciosa história social, cultural e política do final do século XIX e início do século XX.
“Outras Paragens” | Eça de Queirós [Colecção Terra Incognita]
Na história da literatura portuguesa de viagens, o nome de Eça de Queirós surge devido a O Egipto. Notas de Viagem – onde reúne os seus apontamentos durante a inauguração do Canal de Suez. Mas pouco mais. Por uma razão: porque o gosto pela viagem e pela descrição de paragens distantes, pelo exótico e pela aventura, está presente em toda a obra de Eça, mas disperso em vários títulos, de ficção ou de crónica e reflexão. Este livro reúne muitos dos seus textos de viagem, ou sobre viagens, em romances como A Cidade e as Serras ou A Relíquia, ou através da sua Correspondência e das notas que escreveu para a imprensa acerca de Paris, da China, do Japão, de Londres ou da América. Divertido e cosmopolita, romântico e cínico, este é um Eça que estava disperso – e que a partir de agora se pode ler num só volume, para nosso grande prazer.
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