Depois de ter olhado para a obra de artistas maiores como Caravaggio, Van Gogh ou Michelangelo, a Grande Arte do Cinema, série de filmes sobre arte que apresenta alguns dos principais nomes que mudaram o panorama artístico internacional, volta-se agora para a arquitectura e o trabalho colossal de Andrea Palladio (1508 – 1580), um dos mais influentes, citados, copiados e falados arquitectos italianos.
“Palladio – O Espetáculo da Arquitetura”, documentário que pode ser visto na plataforma Filmin, levou para casa dois importantes prémios em 2020: o de Melhor Documentário em Arquitectura e o prémio de Melhor Documentário na edição do Master of Art Film Festival.
O documentário, que atira às urtigas qualquer missão de linearidade temporal, acompanha a vontade de um professor de arquitectura em mostrar aos seus alunos o trabalho de Palladio, numa viagem onde acabará por se reunir com os seus mentores Kenneth Frampton e Peter Eisenman e, também, conhecer as descobertas de três jovens restauradores na Villa Saraceno, na região de Veneto. Isto antes de levar a estudantada a Veneza para conhecer a igreja desenhada por Palladio, arquitecto maior que não recebeu qualquer convite para deixar obra em Veneza, resultado do turbilhão político e da rivalidade de estilos e visões arquitectónicas que então imperava.
Uma missão de levar Palladio às gerações futuras que navega entre o Panteão, a Villa La Rotonda e a Casa Branca, entre a zona rural veneziana e os Estados Unidos – onde Palladio inspirou os símbolos de uma nação que começava a nascer, ficando conhecido pelo Congresso dos Estados Unidos como “pai da arquitetura norte-americana” -, por uma Inglaterra para quem a arquitectura Palladiana foi um autêntico cup of tea.
Uma arquitectura que é a síntese mais apurada entre o espírito do idealismo social do seu tempo e a preocupação de atender às necessidades práticas de habitabilidade como sendo a base de um bom projecto, aliando funcionalidade, conforto e estabilidade à beleza e ao simbolismo e dando, de certa forma, continuidade ao trabalho de Vitrúvio.
O grande mérito de Giacomo Gatti vai para, ao invés de se centrar em fazer a devida vénia arquitectónica, ter preferido um olhar atento sobre todas as questões sócio-políticas que estiveram no cerne da arquitectura de Andrea Palladio, e no modo como esta continua a ser pertinente nos dias de hoje, tantos séculos passados. Tudo num academismo moderado que faz deste um documentário imperdível, mesmo para aqueles que não sabem distinguir entre um tijolo e uma pedra da calçada.
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