Guido Tonelli, professor de Física na Universidade de Pisa, em Itália, foi um dos descobridores do bosão de Higgs, tendo subsequentemente recebido o Prémio de Física Fundamental e o Prémio Enrico Fermi da Sociedade Italiana de Física. A sua paixão pelo estudo das partículas fundamentais que constituem tudo o que existe está bem patente no seu livro “Genesis: A História do Universo em Sete Dias” (Objectiva, 2020).
Por acreditar que “as grandes questões analisadas pela Física estão dentro de cada um de nós”, mas sabendo que “as equações não têm o poder evocativo da linguagem poética”, o autor descreve a origem do universo e as suas transformações num estilo encantatório, entrelaçando a informação científica com diversas referências, culturais, mitológicas e religiosas, que moldaram a nossa sociedade. A obra está estruturada em sete etapas, comparáveis aos sete dias da criação do mundo, segundo a narrativa bíblica do “Livro do Génesis”, já que a teoria segundo a qual o universo se expandiu a partir de um ponto infinitamente pequeno, numa explosão que ficou conhecida como Big Bang, se assemelha a essa cosmogonia, bem como a muitas outras que fazem “remontar o todo a uma espécie de ovo cósmico”.
A compreensão do sucedido nesse instante primordial exige a conjugação de esforços de duas áreas científicas: a Física de Partículas e a Cosmologia, que estudam o infinitamente pequeno e o infinitamente grande, respectivamente. Seguindo os esforços de homens e mulheres que se dedicaram a desbravar a “subtil teia cósmica”, somos conduzidos numa viagem ao início do tempo, quando a expansão do universo começou a transformar o vazio em espaço, gerando partículas que mais tarde se organizam em estrelas, planetas, galáxias e outros corpos celestes. Acompanhamos o jogo de forças muitas vezes opostas, a interacção entre radiação e matéria, as sequências frenéticas de acontecimentos que alternam com períodos de milhares de anos em que nada de relevante acontece, além da expansão e arrefecimento de um universo sem luz, povoado por entidades escuras, até à organização do nosso sistema solar e ao aparecimento da vida na Terra. Aprendemos, entre outras coisas, que os buracos negros são simultaneamente destruidores e criadores, e que estrelas como o sol, de aparência estável quando observadas à distância, são corpos extremamente turbulentos.
O ideal de um universo sereno, com a Terra no centro, que prevaleceu durante milénios e moldou a perspectiva da Humanidade sobre si própria e a sua relação com o mundo, desapareceu com o conhecimento de que orbitamos uma estrela comum, numa das muitas galáxias dispersas por um universo em permanente transformação. A mudança que adviria da descoberta de vida noutro planeta é uma das interrogações finais que o autor deixa à nossa consideração.
O texto pode ser cientificamente exigente, mas os apreciadores de documentários e livros de divulgação científica sobre Física Quântica, Cosmologia e Astrofísica poderão aqui aprofundar conhecimentos de uma forma que as obras mais leves e abrangentes não permitem. No final da leitura, o fascínio, tal como o universo, continua em expansão.
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