Taniguchi Buson nasceu no ano de 1716, vinte anos após a morte de Matsuo Bashô, considerado o rei dos haikus de todas as eras. Morava nos subúrbios de Osaka, e pouco ou nada se conhece da sua infância. Há quem arrisque que a sua família tinha algum poder económico, provavelmente adquirido pelo seu estatuto de proprietários rurais, mas conheceu a tragédia chegou de forma precoce: aos 13 anos os pais separaram-se e, cinco anos depois disso, a mãe faleceu, assim como o seu pai.
Aos 16 anos mudou-se para Edo, hoje Tóquio, para estudar poesia com Hayano Joa (ou Hayano Hajin), e segundo rezam as poucas crónicas terá desbaratado a herança dos pais em tenra idade. Estudou depois o legado de Bashô, aprendeu caligrafia e pintura, bem como o canto que caracteriza o teatro clássico japonês (nô).
Após a morte do mestre viaja até ao distante norte, conhecendo monges, dormindo em templos budistas, escrevendo diários e praticando ferverosamente os haikus. Foi primeiramente reconhecido como pintor, sendo famosas as pinturas que fez para o templo da Ilha de Shikoku. Um sustento e ocupação que durou até aos seus cinquenta anos.
O nome Buson surgiu pela primeira vez em 1744, na assinatura de alguns dos seus quadros. Aos 37 anos instalou-se em Quioto, onde amadureceu como artista multifacetado. Dez anos mais tarde desloca-se para Tango e instala-se no mosteiro budista local, exercitando-se nas práticas meditativas do budismo zen. Aos 42 anos regressa a Quioto, lugar de onde não mais sairá. É então que muda o nome para Yosa Buson, provavelmente em memória da mãe e do lugar de nascimento desta na região de Tango.
Em 1761, com 45 anos, casa-se com alguém de que pouco ou nada se conhece, tendo passado os últimos dez anos num ritmo frenético, ao estilo de um Roberto Bolaño, entre o verso livre, o diário e o ensaio, tendo ainda fundado um grupo literário aos 50 anos. Foi um dos grandes obreiros da restauração da cabana de Bashô, há muito abandonada, e que ainda hoje pode ser visitada. Morreu a 16 de Janeiro de 1784, depois de lhe ditar os seus três últimos haikus. Tinha 67 anos.
Yosa Buson permaneceu esquecido durante um século após a sua morte, em certa parte também devido ao abafamento que Bashô teve perante todos os outros construtores de haikus. Porém, o facto de nunca ter publicado um livro só seu, dispersando-se em colectâneas e antologias, contribuiu também para esse longo anonimato. Tudo mudou quando Masaoka Shiki, poeta do final do século XIX, descobriu os seus trabalhos literários, dando a descobrir uma obra que não fica atrás da do mestre Bashô.
Como escreve Joaquim M. Palma numa introdução com o ar de ensaio biográfico, Buson “escreve com grande mestria, sendo perceptível a existência de uma atmosfera de desprendimento, de simplicidade, de liberdade e de ternura pelas coisas pequenas do quotidiano”, resultado de uma existência sem grandes sobressaltos.
Aquando da publicação da edição princeps japonesa, em 1785, os organizadores escreveram isto: “A publicação desta antologia de haikus de Buson não respeita a vontade do autor, pelo que rogamos que ele não seja julgado por aquilo que aqui está escrito”. Uma espécie de desejo kafkiano em formato haiku, felizmente não cumprido, como se pode agora comprovar em “Os quatro rostos do mundo” (Assírio & Alvim, 2020), antologia que atravessa as quatro estações do ano e nos apresenta os haikus de Yosa Buson, cujas três linhas finais, escritas na forma de um ditado, foram estas:
era de noite
e nascia a luz da aurora
nas flores brancas de uma ameixeira
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