No mundo altamente tecnológico de hoje, é ao mesmo tempo surpreendente e preocupante que, segundo os inquéritos à literacia científica regularmente publicados, grande parte da população viva apartada do conhecimento que está na base do progresso de que desfruta e que é relevante para a tomada de decisões no dia-a-dia, bem como para a participação informada nos debates éticos que podem modelar o nosso futuro.
Por essa razão, é bom ver que o mercado editorial continua a dar voz a cientistas que procuram aproximar a ciência do grande público. Um deles é Marcus Chown, um ex-astrónomo que se voltou para a divulgação científica, trabalhando actualmente como escritor, radialista e consultor de cosmologia da revista New Scientist. Esta sua obra, “O Infinito na Palma da sua Mão” (Vogais, 2020), nasceu, segundo conta o próprio, da ideia de coligir alguns dos factos científicos mais espantosos alguma vez descobertos e usá-los para “explicar parte da mais estimulante e, muitas vezes, extremamente profunda ciência”.
O livro está dividido em sete partes com títulos sugestivos: “Coisas Biológicas”, “Coisas Humanas”, “Coisas Terrestres”, “Coisas do Sistema Solar”, “Coisas Fundamentais” (ou seja, no âmbito da física quântica), “Coisas Extraterrestres” e “Coisas Cósmicas”. No total, contém 50 capítulos curtos, sendo cada um centrado num facto fascinante. Através da sua explicação, são expostos princípios de biologia, química e física, entre outras ciências.
Por exemplo, o que está subjacente ao título do livro é a possibilidade de a espécie humana poder caber no volume de um banal cubo de açúcar, caso fossem eliminados os espaços vazios existentes em todas as pessoas do mundo. Isto demonstra como o vazio permeia a matéria, o que conduz a ideias centrais da física quântica e da cosmologia.
Outro aspecto relevante deste livro, num tempo em que as ciências ditas “aplicadas” são socialmente valorizadas mas a ciência fundamental é considerada inútil com demasiada frequência, consiste em recordar a sua indissociabilidade, recorrendo a exemplos como o dos computadores, que nasceram “no campo abstracto da matemática pura enquanto máquinas da imaginação”, tendo acabado por se revelar “aparelhos muitíssimo práticos”.
O autor é um excelente comunicador e nota-se o prazer que teve na compilação dos factos que descreve, incluindo dados da investigação científica mais recente, inclusivamente de 2018, que é a data de copyright da edição original, no Reino Unido. Aliás, vale a pena colocarmos um marcador adicional na secção das notas, no final do livro, não só para irmos acompanhando os acréscimos de informação a cada capítulo mas, também, para apreciarmos mais amostras do sentido de humor deste cientista.
Trata-se de um livro que pode agradar igualmente a quem já gosta de ciência, bem como a quem hoje a acha aborrecida e complicada. Todos encontrarão aqui razões para se deslumbrarem com o universo, pois, como afirmou Richard Feynman, outro cientista citado por Marcus Chown, “a imaginação da Natureza é muito mais fértil do que a do Homem”.
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