Trata-se do primeiro romance de Annette Hess, argumentista germânica galardoada com vários prémios literários, que escolhe o tema do nazismo e os seus horrores para contar a sua história: a contratação de uma jovem alemã como intérprete de vítimas estrangeiras, num julgamento sobre crimes cometidos pelos responsáveis do campo de concentração de Auschwitz.
A trama passa-se após 20 anos sobre o fim da II Grande Guerra, numa pequena cidade alemã onde os pais de Eva Brunhs têm um restaurante chamado “A Casa Alemã” (Bertrand Editora, 2020). Eva tem 24 anos e move-se entre o seu jovem noivo, que se recusa a falar do passado, e os seus pais, que silenciaram todo o seu conhecimento de Auchwitz, todos eles se opondo à sua nova função de tradutora durante o julgamento.
Um pouco como o fez Hannah Arendt, “A Casa Alemã” aborda o tema da “banalidade do mal”. Talvez por isso a frase mais ouvida durante o Julgamento seja precisamente esta: ”Obedeci apenas a ordens”. Altos dignatários e meros funcionários, todos parecem ter feito parte de uma estrutura criminosa, presumindo-se inocentes porque integrados numa cadeia de comando. Pessoas comuns, sem traços marcantes de fervor ideológico ou sádica brutalidade, que agiram de acordo com o que acreditaram “dever ser”, não exercendo qualquer juízo crítico sobre as consequências devastadoras para outros seres humanos. É precisamente isto que Annette Hess nos mostra: a imensidão do horror de uma Guerra e um sistema político baseado num aterrador e inominável desprezo pela vida humana.
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