A 3.ª edição da TRAÇA – Mostra de Filmes de Arquivos Familiares decorre de 19 a 25 de outubro e propõe revelar as ligações (históricas e quotidianas) e a circulação possível entre Marvila e Alvalade que, apesar de serem territórios contíguos, estão, em parte, desenhados para estarem de costas um para o outro.
O percurso que a TRAÇA 2020 vai desenhar entre Marvila e Alvalade terá o seu centro em Marvila. É construído por oposições – porque não existem filmes de família provenientes de Marvila (mas existem muitos em Alvalade); pelo mapear dos percursos dos moradores de Marvila por Alvalade (das pessoas que saíram dos bairros de construção informal em Alvalade para ocuparem casas ou serem realojadas nos bairros de Marvila, ou os percursos quotidianos, para a Igreja ou o Mercado); e pela procura da paisagem de Marvila em Alvalade.
A programação da 3.ª edição da TRAÇA é apresentada através de um percurso digital, actualizado em cada um dos dias da mostra (www.traca-arquivo.com), que mapeia percursos físicos em Marvila e Alvalade e problematiza também noções de deslocação, construção, autoconstrução, ocupação e memória. Este caminho digital, que identifica locais no terreno e os assinala através de coordenadas GPS, convida também a um percurso físico, que pode ser realizado em qualquer altura pelos espectadores da TRAÇA.
A presença habitual dos moradores nos locais que recebem a mostra, os filmes projectados e comentados são recriados através da partilha de notas de trabalho da equipa, de áudios e transcrições das conversas que aconteceram em Marvila e Alvalade na fase de preparação da mostra, e também de imagens actuais e passadas desses locais – para além, claro, da emissão dos filmes de família que seriam projectados ou comentados.
Pela primeira vez, a TRAÇA convidou uma curadora, Maria do Mar Fazenda, a fazer uma residência no arquivo de filmes de família. Do trabalho curatorial realizado por Maria do Mar Fazenda a partir do arquivo de filmes de família resulta Mural, duas estruturas de afixação de cartazes colocadas em espaços de Marvila e Alvalade e que recebem a intervenção dos artistas convidados desta 3.ª edição: André Guedes, Carla Filipe, Fernanda Fragateiro, Filipe André Alves e Ramiro Guerreiro.
A residência artística realizada pela curadora originou também Montagem, um conjunto de fragmentos seleccionados e organizados em quatro temas (Areia, Varandas, Ocupações efémeras da rua e Evidências da técnica).
São ainda exibidas as colecções em bruto de onde Maria do Mar Fazenda retirou fragmentos, e estas colecções voltam a ser abertas através de emissões comentadas por artistas que já passaram pela TRAÇA, como Margarida Cardoso, Sofia Dinger, Sofia Dias e Vítor Roriz, Jorge Silva Melo e Raquel André, nos dias 20, 22, 23 e 25.
A TRAÇA é um projecto de recolha, estudo e exposição de filmes de família promovido pela Câmara Municipal de Lisboa. Existe desde 2015 enquanto Mostra de Filmes de Arquivos Familiares e assenta sobre dois pilares fundamentais: o território, tratado a partir da história da sua habitação, e o arquivo, cujos limites procura expandir.
No que diz respeito ao trabalho com o território, a TRAÇA envolve-se de modo muito intenso com as comunidades dos Bairros que recebem cada edição da Mostra, trabalhando de forma específica para a recolha e exposição das suas memórias e das suas imagens (mesmo que não sejam em formato fílmico), e promovendo o encontro geracional dentro dessas comunidades.
Em relação ao arquivo, a TRAÇA procura expandir os seus limites de duas formas: através da recolha, em permanência, de filmes de família que, pelo seu carácter privado, não têm um lugar estabilizado na história do cinema e têm sido descartados pelos arquivos fílmicos (e estão a perder-se); e abrindo o arquivo a criadores que, vindos de áreas artísticas sempre distintas, são convidados a criar novos objetos a partir dos filmes de família recolhidos. De ambas as formas, a TRAÇA procura abrir o arquivo e pô-lo em movimento, em trabalho, devolvendo-o ao território da cidade.
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