O único lamento que fica em relação a Lazarus, da qual “Lazarus 3: Conclave” (Devir, 2020) chegou recente às livrarias com o selo da Devir, é que não tenha sido embrulhada numa capa dura, de modo a premiar uma das mais interessantes séries do momento em formato BD.
Estamos num mundo onde as fronteiras deixaram de ser definidas pela política ou pela geografia, mas sim por questões financeiras. Riqueza é definitivamente poder, concentrado num pequeno número de famílias que, entre si, disputam o domínio, forjam alianças e vivem do trabalho de gente que nem à categoria de população tem direito.
Nesta distopia, e abaixo daqueles que mandam em tudo mas vão permanecendo na sombra, a mais sortuda das ralés pertence a uma das Famílias, que vão gerindo o seu território como se de um pequeno e ditatorial país de tratasse. Os que fornecem serviços às Famílias são bem tratados, tudo o resto vê-se distribuído entre Servos e Desperdício.
Neste terceiro volume da série, que conta com argumento de Greg Rucka – durante os anos 2000 trabalhou essencialmente para a DC Comics, colaborando com as séries de Super-Homem, Batman e outras; em Batman colaborou com Ed Brubaker na criação de personagens que deram origem a Gotham Central -, recuamos quatro meses no tempo para assistir ao despenhamento de um avião com Jonah Carlyle a bordo, acontecimento que o levou a ficar prisioneiro de Jakob Hock, que atira com o pedido de asilo de Jonah às urtigas.
Hock, inimigo número um de Malcom Carlyle, o chefe da família, gere as coisas ao estilo de um Big Brother Orwelliano à boleia de um mantra Huxleyiano: “Lembrem-se cidadãos: Tomem os vossos remédios.”.
Segundo Hock, o valor de Jonah não reside naquilo que este sabe ou pensa saber, mas nos segredos que o pai esconde há mais de 60 anos no corpo do filho: o segredo da longevidade, que apenas os Carlyle conhecem. Se o desvendar, Hock terá armas para virar o jogo e trazer para o seu lado da barricada muitas das famílias, indecisas sobre quem deverá mandar nisto tudo.
Perante esta situação de rapto e resgate, e de forma a evitar (para já) um cenário de guerra aberta, um conclave é convocado com todas as famílias presentes, e tanto Hock como Malcom julgam ter argumentos para dele saírem com o domínio reforçado.
Forever Carlyle, a Lazarus da família – um super-ser a quem é dado tudo o que de melhor a Família pode oferecer, entre treino, tecnologia, equipamento e tudo aquilo que a ciência apresentar como a última vanguarda -, é uma das peças centrais da estratégia de Malcom, e aqui vemo-la gravitar entre um baile clássico – com vestido e tudo –, uma missão secreta que de impossível parece ter tudo e um jogo de cintura estratégico que julgaríamos estar fora do seu baralho. Ela que será obrigada a travar um duelo de morte, todo ele mostrado apenas em quadrados silenciosos, numa fase trepidante de um livro cujo final é digno de uma peça de Shakespeare. O melhor dos três volumes até à data, que confirma Lazarus como uma das séries a não perder de vista.
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