O que é que se parece à brava com Maurice Sendak mas não é Maurice Sendak? A julgar pela capa e o conteúdo de “Oliver Button é uma Menina” (Kalandraka, 2020), diríamos que Tomie dePaola, escritor e ilustrador americano que conta com mais de 260 livros infantis publicados – entre os quais “Strega Nona”. Em 2011 recebeu o Children`s Legacy Award – conhecido até 2018 com o Laura Ingalls Wilder Medal -, atribuído a escritores ou ilustradores que, pelo seu percurso, tenham contribuído substancialmente para a literatura para a infância na América.
Publicado originalmente em 1979, “Oliver Button é uma Menina” aborda de caras os estereótipos e os preconceitos de género, apresentando-nos a um rapaz a quem chamam de menina, talvez por preferir apanhar flores e saltar à corda a jogar futebol americano. Até o próprio pai lhe chama menina, torcendo o nariz quando o vê disfarçado a cantar e a dançar, fazendo de conta de que é uma estrela de cinema.
Tentando acordar o desportista que, presumiam, estaria escondido dentro de Oliver, os pais obrigam-no a escolher um desporto mas, ao invés de se decidir por praticar futebol no clube lá do sítio ou uma qualquer arte marcial, este decide-se pela escola de dança da senhora Leah. E, mesmo que seja gozado por todos, Oliver não desiste do sapateado – e vai mesmo participar num concurso de talentos, onde a probabilidade de aumentar o nível de bullying a que está sujeito diariamente é enorme.
Neste livro, que segue o mantra de que os sonhos não devem ser postos na gaveta por má-fé alheia – e que reivindica o direito à diferença -, as ilustrações chegam com a bênção dos lápis de cor, em cores algo contidas mas que conferem alma a desenhos onde as expressões humanas dizem tudo o que é preciso.
Sem Comentários