Nascido a 26 de Abril de 1956 na Bélgica, François Schuiten é um dos mais extraordinários ilustradores do planeta. Em 2002 levou para casa o grande prémio do festival de Angoulêmme, concedido pelo conjunto da sua obra e o forte contributo para a história da banda desenhada. Bastará passar os olhos pela série As Cidades Obscuras – Les Cités Obscures no original -, inventada a meias com Benoit Peeters – o seu parceiro desde os 12 anos de idade -, para perceber a excelência do seu trabalho. Ou, bem mais recentemente, lendo “O Último Faraó” (Asa, 2020), uma aventura desenhada e escrita por Schuiten – com a parceria no argumento de Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig e Laurent Durieux – que mergulha no universo mítico da dupla Blake e Mortimer.
De acordo com Schuiten, “entrar nesta obra é partir em busca de uma fonte que alimentou toda a nossa infância”. Uma história que decorre no Palácio da Justiça de Bruxelas, um “monumento que há tanto tempo nos fascina” e que, “à semelhança da pirâmide de Quéops, (…) não revelou todos os seus segredos”. “O Último Faraó” será, então, qualquer coisa como um post scriptum ou, como se costuma chamar em tempos mais modernos, uma sequela do épico “O Mistério da Grande Pirâmide”, protagonizada pela dupla Blake e Mortimer.
Alguns anos depois de ter acordado na Câmara do Rei, no coração da grande pirâmide de Quéops no Cairo, Egipto, o professor Mortimer entra na sala dos passos perdidos, no Palácio da Justiça, em Bruxelas. Foi lá que, num gabinete emparedado em tempos pertencente a Poelaert, o arquitecto do palácio, surgem estranhos hieróglifos, bem como uma energia desconhecida que afecta todos os aparelhos eléctricos ou electrónicos e ameaça a sobrevivência da humanidade.
Caberá assim, a um já não tão em forma professor Mortimer, enfrentar os mistérios do antigo Egipto que ainda ecoam na sua cabeça, procurando resolver o enigma antes que o exército avance com a decisão de disparar bombas experimentais com ogivas nucleares repletas de trítio. Uma missão desenhada para um jovem Tom Cruise que, segundo Blake, que trabalha agora nuns degraus altos da hierarquia do MI6, vai mais ou menos assim: “Irá saltar de parapente e, a seguir, planar por cima do muro, até ao centro da cidade”. A resposta de Mortimer é a de um comum mortal em dias de pré-reforma: “Tens noção de que a maioria das pessoas da minha idade se contenta em levar os netos ao cinema e a comer gelado?”.
É, também, um livro sobre a capacidade de resistência, a desobediência civil, o fazer pela vida em tempos de fim do mundo. Tudo com o habitual cenários das aventuras desta dupla, onde descobrimos hieróglifos ao contrário, seres assustadores, salas que mudam de configuração, lendas fabulosas e até uma pirâmide gigante invertida – qualquer coisa como uma temporada de Stranger Things rodada no Egipto.
E, se a história não foge muito ao imaginário da série original, já as ilustrações de Shuiten são de outro planeta, fazendo desta homenagem às personagens criadas por Edgar P. Jacobs uma obra-prima. Um livro obrigatório para fãs de Blake e Mortimer e para qualquer apreciador de banda desenhada.
Sem Comentários