Arrancou ontem, no Cinema São Jorge em Lisboa, a 17ª edição da Kino, uma Mostra de Cinema de Expressão Alemã promovida pelo Goethe-Institut Portugal que, até 5 de Fevereiro, irá apresentar 20 filmes cujos temas dialogam entre si, numa conversa “em rima” que, este ano, olha também para os imigrantes portugueses. Fica uma apresentação da Mostra à boleia do press release.
Promovido pelo Goethe-Institut Portugal, a Kino apresenta, no Cinema São Jorge, uma selecção do cinema recente dos países de língua alemã (Alemanha, Áustria, Suíça e Luxemburgo) que mais se destacou no último ano.
As “rimas” na programação aproximam desde logo os filmes de abertura — “Lara”, de Jan-Ole Gerster — e de encerramento — “Das Vorspiel”, de Ina Weisse. Em ambos as personagens principais são mulheres cuja interrupção de promissoras carreiras musicais as obriga a enfrentar, de forma distinta, a frustração. Corinna Harfouch e Nina Hoss, duas grandes actrizes do cinema alemão contemporâneo, dão corpo a estas personagens.
A fragilidade das relações familiares é outro tema presente em vários filmes desta 17.ª edição, abordada de forma impactante, como no thriller “Atlas”, filme de estreia de David Nawrath, ou em “Der Läufer”, do jovem realizador Hannes Baumgartner — ou com pinças delicadas como o drama psicológico “Der Boden unter den Füßen”, de Marie Kreutzer.
Este é também um tema que atravessa “Systemsprenger”, um filme com um pé no tumulto familiar e outro na vulnerabilidade da infância, de Nora Fingscheidt, e o olhar documental de Nina Wesemann em “Kinder”.
A adaptação dos imigrantes às sociedades que os acolhem é outro tema que interliga diferentes filmes da programação da 17.ª KINO – Mostra de Cinema de Expressão Alemã: “Eldorado”, documentário que acompanha quatro emigrantes portugueses no Luxemburgo, e “Oray”, filme de ficção que olha, de uma forma por vezes quase documental, para as circunstâncias de vida de jovens turcos na Alemanha.
A paisagem como personagem cria rimas entre dois outros filmes: a ilha de Lanzarote em “Ralfs Farben” (Lukas Marxt) e os Estados Unidos da América, de costa a costa, em “Lillian” (Andreas Horvath).
Entre os documentários seleccionados, “Space Dogs”, da dupla de realizadores austríacos Elsa Kremser e Levin Peter, destaca-se pela originalidade do seu olhar sobre as várias formas de violência, por vezes quase insuportável, perpetrada sobre os animais.
A atenção dada às novas vozes do cinema de língua alemã é um dos traços mais característicos da mostra Kino, ao longo das suas 17 edições. Dando continuidade a esse olhar, a programação deste ano, assegurada por Corinna Lawrenz, responsável pela programação de cinema do Goethe-Institut de Lisboa, e por Carlos Nogueira, curador e crítico, inclui oito primeiras obras, entre as quais as estreias na longa-metragem de Miriam Bliese (“Die Einzelteile der Liebe”) e Luzie Loose (“Schwimmen”), ambas presentes durante a Kino. Ambos os filmes se destacam não apenas por experimentar novas vias formais, mas também por abordar temas contemporâneos como a identidade digital dos adolescentes ou os novos conceitos de família.
Em 2020, a secção Foco da mostra Kino permite descobrir o cinema de um dos mais importantes cineastas da Escola de Berlim, Ulrich Köhler. Sob o pretexto da apresentação da sua mais recente obra, “Das freiwillige Jahr”, co-assinada por Henner Winckler e estreada no último Festival de Locarno, a Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã exibe o corpus integral das suas longas-metragens.
Köhler pertence a uma geração que deu nova vida ao cinema alemão, após quase uma década de estagnação nos anos noventa; o grupo, reunindo cineastas de estilos, formações e proveniências diversas, como Maren Ade, Christian Petzold, Angela Schanelec ou Valeska Grisebach, ficou conhecido pela crítica alemã como Escola de Berlim.
As personagens de Köhler são frequentemente desprovidas de propósito, buscam um lugar no mundo e, ao mesmo tempo, procuram romper com o quotidiano ordenado de uma sociedade capitalista que, meio século após o fim da Segunda Guerra Mundial, parece satisfeita com o seu conforto.
Desde a sua primeira longa-metragem (“Bungalow”, 2002) que o cinema de Köhler foi caracterizado como “incursão da realidade no cinema alemão”; o seu segundo filme, “Montag kommen die Fenster” (2006), tal como o anterior, volta a ser apresentado numa das secções paralelas da Berlinale.
Com “Schlafkrankheit” (2011), Köhler faz a sua entrada na competição de Berlim, vencendo o Urso de Prata para a melhor Realização. “In my Room”, estreado na secção Un certain regard no Festival de Cannes 2018, é o primeiro filme com estreia em sala em Portugal.
Com o objectivo de reforçar a Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã como uma plataforma para o cinema jovem, a edição de 2020 introduz um modelo de encontro informal entre jovens cineastas alemães e portugueses. O open call para o encontro, que se realiza a 2 de Fevereiro, está a decorrer e toda a informação pode ser obtida através do mail kino-portugal@goethe.de.
Ainda como forma de celebrar e apoiar este cinema emergente, a mostra criou, em 2019, e em parceria com a Oficina Nacional Alemã de Turismo, um Prémio do Público, no qual participam os primeiros filmes exibidos, e que tem este ano a sua segunda edição.
Esta 17.ª edição apresenta também uma sessão para famílias e promove um encontro de programadores com o objectivo de criar um programa itinerante em parceria com promotores locais, chegando assim a um público mais amplo um pouco por todo o país.
A Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã é organizada em parceria com as embaixadas da Áustria, Suíça e Luxemburgo.
Sem Comentários