“Sem Abrigo” (Nuvem de Letras, 2019) é a história de um jovem rapaz que um dia descobriu que há pessoas que têm vidas difíceis. Muito difíceis. Há pessoas que dormem rua, sem casa “que os proteja da chuva, do calor ou do vento. Não têm uma cama para se esticarem depois de um longo dia. Não têm quem os abrace ou ajude. Muitos deles estão completamente sós”. Sem casa pelas mais variadas razões, mas nem sempre foi assim. O texto de Maria Inês Almeida e do seu filho, José Almeida de Oliveira, alerta-nos para as rasteiras que espreitam e que, num instante, poderão transformar a vida.
Consciente da diversidade que a vida contempla, o jovem rapaz é elucidado pela família sobre o conceito de sem abrigo, infelizmente tão pronunciado nos dias de hoje. Altruísta, o jovem partilha mantimentos, agasalhos e, essencialmente, palavras. Palavras simpáticas. Daquelas que aquecem o coração e encurtam o tempo.
Num texto simples, sem grande criatividade, o leitor é inquietado para um problema social que se tem vindo a agravar e para o qual é necessário sensibilizar e reflectir. A ilustração das guardas dão relevância à casa. Há casas desiguais, feitas de diferentes materiais e apresentando distintas formas, mas o importante é que é no seio da nossa casa que cada um de nós se (re)encontra. A ilustração, feita em tons pálidos e suaves, contrasta com a linha vermelha que esvoaça, desenhando um coração, suscitando movimento e induzindo alguma mudança. Traço elegante, quer nos espaços exteriores quer nos interiores, apesar de a articulação entre o texto e a ilustração nem sempre ser coesa.
Maria Inês Almeida, autora de vários livros infanto-juvenis, nomeadamente da colecção “Diário de uma miúda como tu”, escreve a duas mãos com o seu filho, José Almeida de Oliveira, que dá voz a este livro.
Cátia Vidinhas é ilustradora, designer, professora e animadora em filmes de animação.
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