Seria de esperar que, após quase três décadas de boa música e dezassete rodelas editadas, os americanos The Mountain Goats tivessem tido casa cheia na sua estreia em Portugal. Aliás, se as coisas fossem realmente bem-feitas, teria havido passadeira vermelha e uma recepção no aeroporto pelo Coro de Santo Amaro de Oeiras, numa versão acapella de Wear Black capaz de fazer inveja a muito bom miúdo e miúda da escola do Glee. Não foi bem assim o que se passou no Lisboa ao Vivo, mas talvez não seja de estranhar. Afinal, John Danielle, que chegou a ser a única goat desta montanha, não tem propriamente o ar de uma pop, rock ou de qualquer outra coisa star. Nem seria estranho se o confundissem com um tipo do Círculo de Leitores ou com alguém que anda, porta a porta, a pregar a palavra do senhor. Valeu a velha máxima do poucos mas bons, qualquer coisa como uma claque improvisada e extremamente empenhada, a que só faltou mesmo sacar um par de coreografias.
O começo, porém, deixou algum amargo de boca. Quando se esperava uma prestação em modo quarteto, cedo se percebeu que não iria ser bem assim. Sem sombra de bateria, teclas ou qualquer otro adorno de maiores dimensões, John Danielle chegou na boa companhia de Matt Douglas, enquanto nas colunas rebentava o muito poppy Dance With Me, dos Orleans, qualquer coisa como um barco do amor queer.
Com Danielle na guitarra e voz e Douglas intercalando entre a guitarra solo, um saxofone no ponto e alguns coros, tivemos direito a um concerto em modo strip poker, sem os simpáticos adornos que tão bem têm preenchido rodelas como o incrível “Goths”, de 2017, fazendo lembrar o que aconteceu com os Whitney, em 2016, na sua passagem pelo Vodafone Mexefest.
Danielle pede desculpa por ter demorado tanto a misturar-se entre nós, partilhando o facto de ter recebido fantásticas recomendações de Owen Pallet, que falou de Portugal como sendo um país “incrível”. Ao longo de vinte temas, apropriados a um alinhamento em modo redux – alguns deles contando com os coros e a secção de cordas de Laura Cortese & The Dance Card, que fizeram o aquecimento -, Darnielle fez um elogio ao príncipe das trevas Ozzy Osbourne – No More Tears; entrou em modo discos pedidos, perguntando “What do you want to hear, country I’ve never been to?” – após o lindíssimo The Mess Inside -, tratando de adiantar que hinos como No Children e This Year não fariam parte do set – uma valente partida, como se perceberia mais tarde; falou da Bíblia como aquele livro castiço que nos mostra aquilo com que nos deveremos sentir mal, recordando o jantar de Cristo com os seus BFF`s onde, apesar de saber quem o iria trair, teve de fazer a pergunta difícil – Cry for Judas; introduziu o baseball para falar daqueles momentos em que, por mais que nos esforcemos, não conseguimos voltar ao topo – Doc Gooden; e teve ainda tempo de soltar, para contentamento de todos, os lobos em cima dos juízes e de todos aqueles que pensam mandar nisto tudo – Up The Wolves.
O encore foi fortíssimo e cantado em coro, com o triângulo das Bermudas Love Love Love, Heel Turn 2 e This Year, seguido de um inesperado comeback onde No Children teve direito a uma versão estratosférica. “It was the first time No Children has ever been played with a saxophone“, diz Darnielle, um pastor que, de boa vontade, seguiríamos montanha acima como qualquer cabra-montesa de bem com a vida.
Alinhamento
Clemency for the Wizard King
Estate Sale Sign
No More Tears
Hebrews 11:40
Night Light
Younger
The Mess Inside
You Better Keep It on Your Mind
(Hank Williams cover)
Twin Human Highway Flares
Birth of Serpents
Cry for Judas
Steal Smoked Fish
In League With Dragons
Doc Gooden
Tianchi Lake
Up the Wolves
Encore:
Love Love Love
Heel Turn 2
This Year
Encore 2
No Children
Fotos: Tiago Cortez // Everything is New
Promotora: Everything is New
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