Vinte e seis anos depois do seu lançamento em terras brasileiras, “O Menino Quadradinho” (Booksmile, 2015) chega às livrarias nacionais pela mão da Booksmile, naquele que é, também, o primeiro livro de Ziraldo a ser editado em Portugal.
O livro tem, na aparência, tudo para ser olhado como um álbum de banda desenhada, com um formato a rasar o A4 e uma capa dura e laminada como manda a tradição. A juntar a isto, desfolhadas as primeiras dezanove páginas, o leitor dá de caras com toda a magia da banda desenhada: ilustrações-mosaico, compostas por um amontoado de quadradinhos num desenho único que toma conta de duas páginas; a cor e o arrojo muito arejado da pop art; o universo fantástico e fantasmagórico made in terras francesas; super-heróis de inspiração americana; sons surdos tão característicos quanto CRASH, BUM ou WHAM.
Porém, quando a página 20 é virada, o inesperado acontece: toda a cor desaparece das páginas e, ainda mais estranho, deixa de haver qualquer sinal de um desenho, uma ilustração ou um simples traço. A partir daqui, são as palavras – e somente elas – que tomam conta do livro, uma “floresta negra” nas palavras do Menino Quadradinho.
Perante o medo revelado pelo pequeno protagonista, uma voz trata de sossegá-lo, preparando-o para um novo mundo feito de letras negras que vão diminuindo de tamanho com o virar das páginas: «…as palavras são assim mesmo: pedem-nos para termos muita calma e, ao mesmo tempo, vão-nos empurrando com a maior impaciência. Ainda bem que o empurrão é para a frente.»
Nascido no Brasil em 1932, Ziraldo oferece neste livro uma metáfora visual que marca a passagem da infância para a adolescência – e desta para a idade adulta -, através do salto do mundo colorido e gráfico da banda desenhada para o universo das letras negras, onde cabe ao leitor a tarefa de criar e imaginar os mundos e as personagens que atravessam as histórias e a Literatura. Como diz Ziraldo, «este é um livro como a vida. Só é para crianças no começo.» E que belo começo.
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