O barulho da solidão, pratos para canibais, futebol à sombra e um gangue com chaves-de-fenda nos bolsos estão entre as propostas da Antígona para a rentrée. No refractar é que está o ganho, dizemos nós.
Ficção
“Uma Solidão Demasiado Ruidosa” | Bohumil Hrabal
Tradução do checo: Ludmila Dismanová
(edição revista)
Lançamento: 9 Setembro
«Há trinta e cinco anos que trabalho com papel velho, e é essa a minha love story.» Assim começa Uma Solidão Demasiado Ruidosa (1976), a história do velho Hanta, que tem por ofício prensar e destruir papel, resgatando, no entanto, da hecatombe os livros a que se vai rendendo e as mais belas descobertas em pilhas de papel – de Kant e Hegel a Camus e Lao-Tsé –, todos eles proibidos pelas autoridades. Ao destruir obras, por ofício, e ao resgatá-las, por amor, Hanta protagoniza este romance – também ele censurado e publicado em samizdat – sobre a indestrutibilidade da palavra e o seu poder redentor em tempos bárbaros.
“O Quépi e Outros Contos” | Colette
Tradução: Manuela Gomes
Lançamento: 7 Outubro
O universo envolvente da perspicaz Colette e a sua escrita poética deram-nos os melhores argumentos para o presente quarteto de contos: «O Quépi», «O Rebentinho», «As Gavinhas da Videira» e «Bella-Vista». Do luminoso Sul de França às ruas de Paris, da deslumbrante alegoria da mulher-rouxinol presa nas gavinhas da vida aos relatos que fazem tombar as máscaras do quotidiano, O Quépi e Outros Contos celebra odisseias e facetas femininas – destinos exaltantes e dolorosos, desafios ao poder masculino, paixões ilusoriamente rejuvenescedoras e amizades traídas –, pela pluma de uma observadora nata que soube ler como ninguém quem a cercava e a fragilidade das relações.
“A Cozinha Canibal” | Roland Topor
Tradução: Júlio Henriques
Lançamento: 7 Outubro
Se nunca foi avistada em escaparates de livros para bons garfos, ao lado de títulos com mais sex appeal gastronómico, A Cozinha Canibal (1970) serve, no entanto, ao leitor quarenta e três deliciosas receitas antropófagas e modos de preparar o homo sapiens, uma das carnes mais injustamente subvalorizadas. Da saborosa cabeça de patrão com puré a especialidades como míope gratinado e patê de camponês, sem esquecer acepipes como picadinho de missionário com pão ralado – chefes Michelin e comensais de todo o mundo, regozijai com tanta proposta de preparação, apresentação e degustação do vosso semelhante.
“Futebol, Sol e Sombra” | Eduardo Galeano
(edição ampliada)
Tradução: Helena Pitta
Lançamento: 21 Outubro
«Homenagem ao futebol, celebração das suas luzes e denúncia das suas sombras», assim é definido este livro pelo autor, que, de quatro em quatro anos, por altura do Mundial se fechava em casa durante um mês e pregava na porta uma tabuleta onde se lia: «cerrado por fútbol». Eduardo Galeano, no seu estilo inconfundível, passa em revista os ídolos, as lendas e os episódios marcantes da modalidade, compondo uma história emotiva do futebol, em toda a sua glória. Uma edição actualizada pelo autor, pouco antes do seu falecimento em 2015.
“O Amor Louco + Nadja” | André Breton
Tradução: Luiza Neto Jorge / Ernesto Sampaio
Lançamento:21 Outubro
A reedição de duas obras fundamentais do movimento surrealista.
Nadja (1928), considerada pelo autor a sua obra-chave, mergulha-nos num ambiente em que sonho e realidade muitas vezes se confundem. Fragmentos de imagens que parecem suceder-se ao sabor do pensamento reconstituem a história de uma breve relação do narrador com uma mulher misteriosa por quem nutre sentimentos também eles marcados pela flutuação: ora interesse, paixão e obsessão, ora compaixão e tédio. Fascinante ou vulgar, inteligente ou ingénua, sagaz ou louca, será Nadja, sequer, real?
«Nunca houve qualquer fruto proibido. Só a tentação é divina.» O que é o amor? Como surge? Que acasos, que convulsões, que beleza o desencadeiam? É esta a louca proposta de Breton em O Amor Louco (1937). A partir da história do encontro com uma mulher «escandalosamente bela», Breton vai procurar definir esta emoção, feita de «comunicação entre seres» e carnalidade, e procurar a sua fonte.
“O Gangue da Chave-Inglesa” | Edward Abbey
Ilustrações: Robert Crumb
Prefácio: Júlio Henriques
Tradução: José Miguel Silva
Lançamento: 4 Novembro
Uma obra de culto de um dos pioneiros da ecologia radical, para ler ao som de Neil Young e de Sabotage, dos Beastie Boys. | Rolling Stone | Uma road story ecologista. | Le Monde | Uma obra-prima do anticapitalismo, um mergulho no universo de Easy Rider. | Les Inrockuptibles
Revoltados com a destruição do Oeste americano pela indústria e pelo governo, quatro insubmissos decidem lutar contra a «máquina»: Hayduke, bebedolas e veterano do Vietname, Doc Sarvis, cirurgião pirómano, a sua bela amante, Bonnie Smith, e Seldom Seen Smith, mórmone e guia experiente. A quadrilha destrói pontes, estradas e vias-férreas que cruzam a aridez e, armada simplesmente com uma chave-inglesa e alguma dinamite, afronta os garantes da ordem e da moral, no seu encalço.
Escritor e ensaísta, Edward Abbey (1927-1989) partiu em 1944 à descoberta do Oeste americano, onde se apaixonou pelo deserto. Foi guarda-florestal em diversos parques nacionais nos EUA. Ícone da contracultura, recusou um prestigiado prémio da Academia Americana de Artes e Letras, dado que a cerimónia de entrega do galardão coincidia com um compromisso pessoal: a travessia de um rio no Idaho. Consta que as suas derradeiras palavras foram «Sem comentários», e, a seu pedido, jaz eternamente num local desconhecido, no deserto do Arizona.
“Tono-Bungay” | H.G. Wells
Tradução: José Miguel Silva
Lançamento: 4 Novembro
Tono-Bungay, para muitos, entre os quais D. H. Lawrence, a obra-prima de H. G. Wells, é a história de uma mistela que se converte em elixir e panaceia universal, que restaura a saúde, a beleza e a energia. Quando George Ponderevo é solicitado pelo seu tio para comercializar eficazmente a beberagem, cria-se um verdadeiro empório. Uma sátira à mercantilização crescente e à credulidade do mundo.
Não Ficção
“A Arte de Não Acreditar em Nada / Livro dos Três Impostores” | Organização e prefácio: Raoul Vaneigem
Tradução: Manuel de Freitas
Lançamento: 23 Setembro
Antes do advento do protestantismo que afrontou a Igreja Católica, já mentes inquietas de ateus e agnósticos fervilhavam na clandestinidade. É isso que revelam os dois opúsculos reunidos nesta edição: A Arte de Não Acreditar em Nada – escrito inflamado que, em 1574, levou o seu autor, Geoffroy Vallée, a ser enforcado em praça pública, e uma herética dissertação que acusa as religiões de obscurantismo e de serem mananciais de cretinos em série e de fiéis fanáticos e ignorantes – e O Livro dos Três Impostores, obra mítica que terá circulado num manuscrito na Idade Média e que injuria Moisés, Jesus e Maomé, desmascarando charlatães versados na oratória e ilusionistas místicos com intenções megalómanas.
“Laocoonte” | G.E. Lessing
Tradução, posfácio e notas: José Miranda Justo
Lançamento: 18 Novembro
Laocoonte ou sobre as Fronteiras da Pintura e Poesia (1766), a obra maior de Lessing, é um texto essencial da teoria estética e um clássico sobre a natureza da pintura e da poesia, os seus limites, esferas e especificidades. Contestando o ut pictura poesis e visando a libertação das artes desta premissa, o seu impacto manteve-se até aos nossos dias, tendo sido recuperada nomeadamente por Eisenstein e Greenberg.
“Porquê Olhar os Animais?” | John Berger
Tradução: Jorge Leandro Rosa
Lançamento: 18 Novembro
Um conjunto de ensaios que explora a degradação da relação entre o homem e a natureza na era do consumismo moderno, e a redução dos animais (outrora no centro da existência humana) à categoria de espectáculo. Uma reflexão sobre o tortuoso percurso do animal, de musa inspiradora na arte do homem primitivo a divindade espiritual e, actualmente, a fonte de entretenimento, confinado a circos e jardins zoológicos.
“Flauta de Luz n.º 7”
Editor e organizador: Júlio Henriques
Lançamento: Outubro
(Distribuição: Antígona)
Prosseguindo o seu contacto com dois pólos extremos do mundo contemporâneo (o desenvolvimento demencial das tecnologias industriais e a resistente permanência das culturas vernaculares), o n.º 7 da revista Flauta de Luz questiona a aceleração de tudo através de várias abordagens das inovações do capitalismo assentes nos fundamentalismos da tecnociência. Ao mesmo tempo, procura expor algumas das expressões que se encontram do outro lado da barricada, tais como a construção duma democracia sem Estado em Rojava e no Chiapas ou a visão que anima os movimentos indígenas nas Américas. Este número inclui um conjunto de poemas sequenciais, que vão de Armand Robin a Kevin Gilbert, passando por autores como W.S. Merwin, Kurt Vonnegut, o centenário Lawrence Ferlinghetti, H. D. Thoreau, sem esquecer um novo conjunto da poesia ameríndia contemporânea e uma parte dedicada à ficção (Macedonio Fernández, Marcel Mariën).
“A Ameaça de Antígona 40 Anos”
Organização: Luís Oliveira
Lançamento: 18 Novembro
Uma antologia de testemunhos de colaboradores que estão ou estiveram ligados à editora, uma homenagem ao projecto desenvolvido e realizado pela Antígona ao longo de 40 anos, completados em Junho deste ano.
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